Logo de início um dos aspectos mais
surpreendentes na animação do especialista Don Bluth (de “Fievel-Um Conto Americano”
e “em Busca do Vale Encantado”) –é o fato de que ela NÃO vem dos Estúdios
Disney.
Isso porque “Anastasia” obedece a todos os
paradigmas tornados clássicos pela fórmula Disney de se construir uma
animação; sejam aquelas que ao longo dos anos se mostraram infalíveis, ou até
mesmo as que foram apontadas como suas fraquezas.
Com efeito, “Anastasia” trata de uma princesa
(com o inusitado pedigree de ser extraída de um acontecimento real!), tem
romantismo e animais fofinhos, sequências animadas com ostensiva excelência
técnica, e números musicais que se revelam obrigatórias a cada quinze minutos
–e não raro testam a paciência do expectador.
A trama gira em torno da lendária princesa, filha do
Czar Russo dada como desaparecida numa noite de dezembro de 1917, quando
revoltosos invadiram o palácio real.
Durante essa noite trágica, a imperatriz escapa
para a França, não sem antes perder sua neta mais jovem, a princesa Anastasia Romanov cuja desaparecimento, passados dez anos, ainda se encontra envolto em mistério.
Teria a princesa russa morrido? Ou ela ainda estava viva em algum lugar?
Como a imperatriz havia prometido uma
recompensa a quem lhe trouxesse sua neta desaparecida, muitos foram os
aproveitadores que apareceram com sósias de Anastasia dispostos a faturar a
gorda fortuna.
Não deixa de ser um desses aproveitadores o
jovem Dimitri –que, por sinal, foi quem ajudou a verdadeira Anastasia e sua avó
a escapar do palácio naquela noite –ele, ao lado de seu Tio Vlad almejam
treinar uma sósia de Anastasia de modo tão impecável que ela convenceria até
mesmo a já saturada imperatriz.
Entretanto, o roteiro não deixa quaisquer
dúvidas de que a moça que a eles se apresenta, a órfã Ania, é a própria Anastasia;
tanto que seu encontro com Dimitri e Vlad traz de volta das profundezas o
demoníaco monge Rasputin –também ele um personagem que existiu de fato
convertido aqui num vilão sobrenatural com trejeitos ora amedrontadores, ora
histriônicos.
Roteirizado de forma pedante e acometido por
toda sorte de clichês que definem as obra do sub-gênero ‘filme de princesas’,
“Anastasia” supera todas as suas limitações graças ao talento de Don Bluth: Um
animador ‘das antigas’, ele intercala experimentalismos em computação gráfica,
bastante eficientes e interessantes nos detalhes, com o processo hoje datado da
rotoscopia formulada, onde a autenticidade e a fluidez dos movimentos na
animação são obtidos desenhando sobre uma filmagem feita previamente com atores
reais –técnica esta que a própria Disney havia superado uma década antes.
Financiado pelos estúdios da Fox, “Anastasia”
foi uma válida tentativa, nos anos 1990, em peitar a soberania longeva e
inquestionável da Disney nesse terreno. Não foi de todo mal-sucedido (“Anastasia”,
afinal, é uma louvável realização), mas também não se pode dizer que atingiu
algum êxito: Poucos anos depois, a Disney tratou de estabelecer sua primazia
técnica e artística em animação de forma indiscutível ao lançar a obra-prima
“Tarzan”.
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