Cada vez mais distante de sua persona como
ator, e mais próximo de sua persona como diretor, Clint Eastwood aproveita, a
cada novo projeto, para refinar sua verve cinematográfica.
“Sully-O Herói do Rio Hudson” é uma prova vital
do quanto Eastwood se assumiu como diretor de cinema se pararmos para pensar
que o filme é, antes de tudo, uma grande decupagem.
É também uma história real que não havia menor
dúvida, mais cedo ou mais tarde, encontraria um diretor que trataria que contá-la
no cinema –o fato desse diretor ser Eastwood evidencia o golpe de sorte dos
envolvidos.
Numa estrutura narrativa um pouco diferente de
“O Vôo”, de Robert Zemeckis (filme cujo roteiro fictício foi diretamente
inspirado no episódio de Sully Sullenberger), vemos não o acidente convertido
em salvamento (que, aliás, foi amplamente escrutinado pela mídia), mais sim os
seus desdobramentos: Vivido por um compenetrado Tom Hanks, o comandante Chesley
‘Sully’ Sullenberger já surge em cena atormentado por pesadelos e preocupações
das mais diversas ordens.
É difícil para ele esquecer os eventos de 15 de
janeiro de 2009, quando uma pane nas duas turbinas de seu avião o obrigou a
aterrissar nas águas do Rio Hudson, levando-o, contra todas as previsões, a
salvar a vida de todos os seus passageiros.
Seus pesadelos a respeito desse fato são
constantes –e neles, ao contrário do que houve, Sully testemunha, horrorizado,
a queda trágica e de seu avião.
A vida desperta também não parece arrefecer as
coisas: A NTSB, órgão responsável pelo esclarecimento de incidentes aéreos nos
EUA iniciou suas investigações e, no caráter impessoal que adotaram, está a
possibilidade de Sully ter sido negligente, o que pode custar sua carreira e
sua reputação.
O acidente em si, não é esquecido: A medida que
as investigações avançam, exigindo inesperadamente nervos de aço da parte de Sully
e de seu co-piloto, Jeff Skiles (Aaron Eckhart), somos apresentados aos
flashbacks que irão ilustrar em minúcia a incrível aterrissagem no Rio Hudson
(construída com a austeridade técnica que em Eastwood sempre foi exemplar), e
também aos detalhes mais íntimos na vida do protagonista, resumidos basicamente
nos diálogos telefônicos com a esposa (Laura Linney) e nas breves lembranças da
juventude –todos são esforços da narrativa em contextualizar e aprofundar a
sequência da qual se fala todo o filme (a do avião); e se Eastwood começa
aparentando ao expectador uma tentativa de evitá-la, logo ela irá mostrar que é
bem o oposto: Como um diretor de cinema fascinado com o poder de seu filme, ele
revê aquela cena em ângulos e circunstâncias que só fazem enfatizar o mérito
heroico de seu protagonista, e reiteram o grau de tudo de inacreditável e
miraculoso que se passou naqueles momentos.
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