segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Comando Negro

Grande sucesso do extinto estúdio Republic, “Comando Negro”, do especialista (e injustamente pouco reconhecido hoje) Rauol Walsh, é uma bela oportunidade de apreciar um ainda jovem John Wayne –apenas um ano antes, ele tinha feito sua primeira colaboração com John Ford, “No Tempo das Diligências”.
É um EUA pré-Guerra Civil aquele por onde singram Bob Seton (John Wayne) e Grunch (George Hayes) dispostos a enveredar para o Oeste a fim de melhorar de vida –ainda que no início, sua rotina inclua golpes onde Seton puxa briga com incautos eventuais e Grunch apareça oferecendo seus serviços de dentista àqueles cujos dentes ele amolece (!).
O assunto político é delicado em qualquer lugar, pois o país vive uma indecisão acerca das questões políticas e abolicionistas que logo irão fragmentá-lo.
É dessa forma que Seton e Grunch chegam à Lawrence, no Kansas, cidadezinha localizada justamente na fronteira entre o Norte e o Sul. Embora a grande maioria seja simpatizante ao Norte, há aqueles moradores que concordam com a oposição sulista, como a bela Mary McCloud (Claire Trevor), seu irmão Fletch (Roy Rogers, em seu único encontro na tela com Wayne) e seu pai (Porter Hall), ilustre bancário do lugar.
A mão de Mary é cobiçada em casamento há tempos pelo respeitado professor do lugar, Will Cantrell (Walter Pidgeon, indicado ao Oscar por “Madame Curie”), o que gera uma rivalidade velada quando Seton interessa-se por ela também.
Não só o coração de Mary os dois veem a disputar, mas também a vaga de delegado da região que, apesar da cultura e do conhecimento de Cantrell, é conquistada por Seton com um discurso populista e que já antecipava as inclinações conservadoras do astro John Wayne.
Cantrell, amargurado pela derrota, enxergava ali uma chance de desvencilhar-se do que ele julgava ser uma perspectiva medíocre como o educador da região, e com isso decide sucumbir às atividades ilícitas como contrabando de escravos e de armas.
É em algum momento dessa curiosa dualidade entre o forasteiro vindo da adversidade em direção à respeitabilidade (Seton) e o homem letrado se deixando corromper pela vilania e pelo crime (Cantrell) que a Guerra de Secessão eclode acirrando ainda mais as dinâmicas primorosamente estabelecidas pelo diretor Rauol Walsh.
Em meio ao julgamento de seu irmão (por ele, sulista fervoroso, ter baleado um cidadão humilde que defendia o Norte), Mary apela em desespero ao auxílio de Cantrell –apesar de amá-la e de ser correspondido por ela, Seton, nomeado delegado, se mostrou íntegro demais para burlar a lei. Cantrell, assim obtém a absolvição de Fletch intimidando e ameaçando os membros do júri –não somente a absolvição: Obtém também a mão de Mary em casamento, em agradecimento por salvar seu irmão.
Entretanto, naquele ponto, Cantrell já ultrapassou a muito o ponto de não-retorno em que a redenção ainda se faz possível: Sob seu comando, uma guerrilha disfarçada de soldados confederados realiza saques e pilhagens por toda a região. E ele só está esperando que o delegado Seton, desiludido com o afastamento de Mary, deixe seu cargo para voltar para o Texas, liberando caminho para seus bandidos tomarem toda a cidade.
Ostentando uma habilidade notável para conciliar as facetas de cunho sócio-político com os desenlaces astutos de sua premissa, o filme de Walsh se revela primoroso mesmo na comparação com outras obras de seu tempo que ficaram bem mais famosas.

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