Grande sucesso do extinto estúdio Republic, “Comando
Negro”, do especialista (e injustamente pouco reconhecido hoje) Rauol Walsh, é
uma bela oportunidade de apreciar um ainda jovem John Wayne –apenas um ano
antes, ele tinha feito sua primeira colaboração com John Ford, “No Tempo das
Diligências”.
É um EUA pré-Guerra Civil aquele por onde
singram Bob Seton (John Wayne) e Grunch (George Hayes) dispostos a enveredar
para o Oeste a fim de melhorar de vida –ainda que no início, sua rotina inclua
golpes onde Seton puxa briga com incautos eventuais e Grunch apareça oferecendo
seus serviços de dentista àqueles cujos dentes ele amolece (!).
O assunto político é delicado em qualquer
lugar, pois o país vive uma indecisão acerca das questões políticas e
abolicionistas que logo irão fragmentá-lo.
É dessa forma que Seton e Grunch chegam à
Lawrence, no Kansas, cidadezinha localizada justamente na fronteira entre o
Norte e o Sul. Embora a grande maioria seja simpatizante ao Norte, há aqueles
moradores que concordam com a oposição sulista, como a bela Mary McCloud
(Claire Trevor), seu irmão Fletch (Roy Rogers, em seu único encontro na tela
com Wayne) e seu pai (Porter Hall), ilustre bancário do lugar.
A mão de Mary é cobiçada em casamento há tempos
pelo respeitado professor do lugar, Will Cantrell (Walter Pidgeon, indicado ao
Oscar por “Madame Curie”), o que gera uma rivalidade velada quando Seton
interessa-se por ela também.
Não só o coração de Mary os dois veem a
disputar, mas também a vaga de delegado da região que, apesar da cultura e do
conhecimento de Cantrell, é conquistada por Seton com um discurso populista e
que já antecipava as inclinações conservadoras do astro John Wayne.
Cantrell, amargurado pela derrota, enxergava
ali uma chance de desvencilhar-se do que ele julgava ser uma perspectiva
medíocre como o educador da região, e com isso decide sucumbir às atividades
ilícitas como contrabando de escravos e de armas.
É em algum momento dessa curiosa dualidade
entre o forasteiro vindo da adversidade em direção à respeitabilidade (Seton) e
o homem letrado se deixando corromper pela vilania e pelo crime (Cantrell) que
a Guerra de Secessão eclode acirrando ainda mais as dinâmicas primorosamente
estabelecidas pelo diretor Rauol Walsh.
Em meio ao julgamento de seu irmão (por ele,
sulista fervoroso, ter baleado um cidadão humilde que defendia o Norte), Mary
apela em desespero ao auxílio de Cantrell –apesar de amá-la e de ser
correspondido por ela, Seton, nomeado delegado, se mostrou íntegro demais para
burlar a lei. Cantrell, assim obtém a absolvição de Fletch intimidando e
ameaçando os membros do júri –não somente a absolvição: Obtém também a mão de
Mary em casamento, em agradecimento por salvar seu irmão.
Entretanto, naquele ponto, Cantrell já
ultrapassou a muito o ponto de não-retorno em que a redenção ainda se faz
possível: Sob seu comando, uma guerrilha disfarçada de soldados confederados
realiza saques e pilhagens por toda a região. E ele só está esperando que o
delegado Seton, desiludido com o afastamento de Mary, deixe seu cargo para
voltar para o Texas, liberando caminho para seus bandidos tomarem toda a
cidade.
Ostentando uma habilidade
notável para conciliar as facetas de cunho sócio-político com os desenlaces
astutos de sua premissa, o filme de Walsh se revela primoroso mesmo na
comparação com outras obras de seu tempo que ficaram bem mais famosas.
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