sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Old Boy

No brilhante capítulo do meio de sua Trilogia da Vingança, Chan-Wook Park entrega um protagonista arremessado num conto mirabolante de improbabilidades extraordinárias, no entanto, tão bem executadas por seu roteiro que a premissa algo absurda não somente soa envolvente como também reflexiva.
Esse protagonista é Oh Dae-Su (o grande ator Choi Min-Sik). No ritmo febril imposto por Chan-Wook Park mal temos tempo de vislumbrar o cidadão cheio de vícios e defeitos que Oh Dae-Su é (ele vai parar numa delegacia por assediar uma moça na rua, e lá, puxa briga até mesmo com os policiais), e ele já é capturado misteriosamente dando início ao seu incomum calvário.
Seja lá quem for a pessoa que o sequestrou, ele prendeu Oh Dae-Su num quarto de hotel barato, dentro do qual ele não tem outra escolha senão ver os quinze anos que se passam (!).
Ele não tem escolha literalmente: Se tenta se matar, estranhos prontamente o atendem; gases o fazem dormir e, quando acorda, suas unhas e cabelos estão feitos. Há uma televisão que fica sempre ligada –da qual ele assiste o noticiário onde descobre que sua esposa foi morta (sendo ele o principal suspeito) e sua filha entregue à adoção.
E assim, sem maiores informações acerca de seu captor, Oh Dae-Su vê quinze anos se passarem enquanto nutre um ódio descomunal do misterioso indivíduo que destruiu sua vida, numa primorosa referência à outro grande conto sobre o empuxo tóxico da vingança, “O Conde de Monte Cristo” –que inclusive será citado explicitamente mais tarde.
Uma tênue esperança de escapar começa a se desenhar (ele começou a desmontar os tijolos de uma das paredes e crê que em um mês será capaz de transpô-la) quando subitamente ele é libertado dentre de uma maleta no alto de um prédio qualquer de Seul.
Ele não faz ideia de quem fez isso com ele. Do porque o prendeu e nem porque resolveu o soltar –questões que serão fundamentais no desenrolar da trama –mas, Oh Dae-Su está disposto a dedicar cada minuto para descobrir.
Avançar na explicação dos desdobramentos de “Old Boy” ameaça invadir aqueles tópicos da narrativa cuja revelação pode comprometer o impacto do que é contado –e, nesse sentido, o trabalho de Chan-Wook Park é tão visceral quanto esplêndido.
Ele dá um visível salto de sofisticação em relação à crueza mais perceptível do anterior “Mr. Vingança” enquanto lança mão de uma vastidão maior de recursos para construir um filme de visual ainda mais elaborado (seus criativos enquadramentos elípticos ganham aqui um sem-fim de novos incrementos, além de uma montagem cheia de inventividade) amparado numa trama absolutamente espantosa: O plot twist do final é de uma manobra tão corajosa, radical e perversa que se tornou lendário!

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