A atriz e comediante Amy Schumer é a mais
perfeita tradução norte-americana do cinema moderno para a personagem britânica
de “O Diário de Bridget Jones”. Claro que Renee Zelwegger incorporou-a com
perfeição no filme de 2001, mas Amy
Schumer vai além de um bom desempenho no papel; ela leva essa adequação para o
mundo real.
Foi assim com o ótimo “Descompensada”, o filme
que certamente a revelou, e é assim neste “Sexy Por Acidente” que mesmo não
equiparando a mesma qualidade, ainda assim orbita as mesmas angústias femininas
que já ditavam a narrativa daquele filme anterior.
Talvez até para efeitos de referência, a
personagem de Amy, aqui, se chama Renee. E ela é uma coleção ambulante de todas
as inseguranças da mulher moderna: Tem baixa alto-estima (salientada nas
constrangedoras situações cotidianas mostradas já no início), briga com a
balança (o que a leva a protagonizar sucessivas gafes na academia que
frequenta) e amarga um emprego que não lhe satisfaz (num subsolo onde sua única
companhia é o personagem hilariamente melancólico vivido por Adrian Martinez).
Tudo começa a mudar para Renee quando, num
acidente com uma bicicleta ergométrica, ela bate a cabeça e, a partir daí,
(talvez inspirada por um pedido feito numa fonte dos desejos na noite anterior)
passa a acreditar que seus sonhos foram atendidos e ela se tornou linda!
Entretanto, o expectador e todos os demais
coadjuvantes percebem a verdade; que absolutamente nada mudou (!) e ela
continua a mesma.
Sua atitude, porém, é outra: Convicta de que
agora é bela e sexy, Renee se candidata ao cargo de recepcionista de Avery
Leclaire (Michelle Williams), um emprego que outrora ela jamais ousaria
almejar; e passa a paquerar homens na rua, descolando até mesmo um namoro com o
boa-praça Ethan (Rory Scovel).
Na mensagem algo non-sense do humor
norte-americano que exibe (e que se baseia numa comédia de vergonha alheia que
não agrada ao público com unanimidade), “Sexy Por Acidente” quer deixar um
recado bem claro às suas expectadoras: De que a auto-confiança é tudo, e por
mais que não pareça, é muito mais válida nas relações interpessoais do que uma
bela estampa.
Na trajetória que os diretores Abby Kohn e Marc
Silverstein (também roteiristas) escolheram para expor essas ideias, os
percalços experimentados pela personagem principal se sucedem com relativa
indulgência, embora não lhes falte sagacidade e polimento –algumas situações
podem remeter impressões similares ao do clássico “Muito Além do Jardim”.
E Amy Schumer é, com frequência, uma força da
natureza. Não há um instante de hesitação quando ela demonstra seu
inconformismo diante do comportamento cafajeste e seletivo dos homens em geral
diante de mulheres mais ou menos feias (a participação da top-model Emily
Ratajkowski é notável); ou quando assume a certeza de que ficou bela em
sequências que poderiam representar o ponto frágil do filme caso não houvesse
ali uma atriz convicta e destemida. “Sexy Por Acidente”, no entanto, deixa de
ser uma comédia oscilante entre o constrangedor e o afiado quando adentra sua meia
hora final e diz a que veio –quando um novo acidente faz Renee, digamos,
‘voltar ao normal’ com toda sua insegurança e incerteza sobre si mesma.
O filme então começa a empolgar de verdade ao
colocar a protagonista diante de conquistas improváveis no âmbito profissional,
romântico e pessoal, confrontada, porém, por toda sua vulnerabilidade e pela
ilusória constatação de que foi tudo um passe de mágica –e é desnecessário
dizer que, por isso mesmo, Amy Schumer brilha, no domínio pleno do humor que
demonstra.
Se depender da iniciativa
da atriz, haverão muitos filmes ainda protagonizados por ela, a abordar com bom
humor as facetas íntimas e irônicas de ser mulher no mundo de hoje.
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