A indefinição de gênero parece uma constante na
filmografia de John Carpenter –ela aparece na inacreditável propensão para a
comédia surgida em seu “Memórias de Um Homem Invisível”, quando todos esperavam
de Carpenter uma revisão sublinhada no terror da premissa concebida por H.G.
Wells; aparece também em sua obra-prima, “Halloween”, moldando códigos
descobertos no giallo italiano para forjar um dos primeiros exemplares do
slasher; até mesmo no cult “O Enigma do Outro Mundo”, uma refilmagem da obra de
Howard Hawks que integrada à produção comercial de então se torna um produto
completamente distinto de sua fonte.
Há diversos exemplos assim ao longo de toda
carreira de Carpenter –a aventura de artes marciais que, em seu estranhamento,
não vai a lugar algum (“Aventureiros do Bairro Proibido”); o filme
pós-apocalíptico absolutamente peculiar em sua singularidade (“Fuga de Nova
York”) –mas, quase todos eles, pela proximidade ou pelo afastamento, remetem ao
terror.
Nesse sentido, “Vampiros” é uma obra de
Carpenter dos pés à cabeça –e essa compreensão é tão absoluta que ele batiza o
filme com seu próprio nome! Carpenter queria realizar um faroeste, dos poucos
gêneros que em sua ampla experiência, ele ainda não tinha adentrado –e esforços
não faltaram visto que seu “Assalto À 13ª DP” é praticamente uma refilmagem de
“Onde Começa O Inferno”, também de Hawks.
Quiseram dele, porém, mais do mesmo: Terror,
desta vez, uma produção envolvendo as criaturas sugadoras de sangue e seus
caçadores.
Carpenter enxergou nessa oportunidade a chance
de desconstruir o filme para fazer o faroeste que tanto almejava. O coração do
filme, portanto, é definido pelo estilo que o norteia mais que pela trama que
conta.
Marrento como o mais durão dos cowboys, James
Woods interpreta Jack Crow, líder de um grupo de caçadores de vampiros
contratados pelo Igreja Católica que, armados até os dentes e trajados de
roupas escuras e estilosas, remetem aos pistoleiros de antigamente. Também o
cenário por onde singram –um árido deserto americano nos arredores do Novo
México –ajuda nessa relação.
Jack Crow e seu grupo estão no encalço do mais
poderoso dos vampiros, Valek (Thomas Ian Griffith) que tem, também ele, seus
planos.
Valek quer por a mão em uma relíquia, uma cruz
centenária que, segundo contam as lendas, pode neutralizar sua maior fraqueza,
permitindo aos vampiros caminhar à luz do sol.
Já no princípio de sua missão, Jack Crow já tem
seu grupo quase todo dizimado pelo poderoso Valek –em compensação, sua
retribuição é implacável, eliminando também a horda de vampiros de Valek
deixando-o sozinho em sua busca.
A Jack Crow resta o fiel Montoya (Daniel
Baldwin) que se dedica a cuidar (e, mais tarde, enamorar-se) da prostituta
Katrina (Sheryl Lee, de “Os Últimos Dias de Laura Palmer”), uma vítima de Valek
que, a exemplo das outras, está em processo de converter-se, também ela, em uma
vampira.
O filme se debruça assim sobre os percalços dos
dois antagonistas maiores, Jack Crow e Valek –de Crow, ele acompanha sua
aliança com o padre Guiteau (Tim Guinee) e seu plano de usar a conexão psíquica
de Katrina com o vampiro para enfim encontrá-lo; de Valek, ele registra seus
ataques sistemáticos na busca para criar novos lacaios, enquanto procura por
sua preciosa relíquia.
O confronto final entre os
dois, inadvertidamente situado no clímax do filme, é alcançado num ritmo
cadenciado, característico das atmosferas cheias de suspense e apoteose do
Velho Oeste, exatamente como almejava seu realizador.
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