sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Vampiros de John Carpenter

A indefinição de gênero parece uma constante na filmografia de John Carpenter –ela aparece na inacreditável propensão para a comédia surgida em seu “Memórias de Um Homem Invisível”, quando todos esperavam de Carpenter uma revisão sublinhada no terror da premissa concebida por H.G. Wells; aparece também em sua obra-prima, “Halloween”, moldando códigos descobertos no giallo italiano para forjar um dos primeiros exemplares do slasher; até mesmo no cult “O Enigma do Outro Mundo”, uma refilmagem da obra de Howard Hawks que integrada à produção comercial de então se torna um produto completamente distinto de sua fonte.
Há diversos exemplos assim ao longo de toda carreira de Carpenter –a aventura de artes marciais que, em seu estranhamento, não vai a lugar algum (“Aventureiros do Bairro Proibido”); o filme pós-apocalíptico absolutamente peculiar em sua singularidade (“Fuga de Nova York”) –mas, quase todos eles, pela proximidade ou pelo afastamento, remetem ao terror.
Nesse sentido, “Vampiros” é uma obra de Carpenter dos pés à cabeça –e essa compreensão é tão absoluta que ele batiza o filme com seu próprio nome! Carpenter queria realizar um faroeste, dos poucos gêneros que em sua ampla experiência, ele ainda não tinha adentrado –e esforços não faltaram visto que seu “Assalto À 13ª DP” é praticamente uma refilmagem de “Onde Começa O Inferno”, também de Hawks.
Quiseram dele, porém, mais do mesmo: Terror, desta vez, uma produção envolvendo as criaturas sugadoras de sangue e seus caçadores.
Carpenter enxergou nessa oportunidade a chance de desconstruir o filme para fazer o faroeste que tanto almejava. O coração do filme, portanto, é definido pelo estilo que o norteia mais que pela trama que conta.
Marrento como o mais durão dos cowboys, James Woods interpreta Jack Crow, líder de um grupo de caçadores de vampiros contratados pelo Igreja Católica que, armados até os dentes e trajados de roupas escuras e estilosas, remetem aos pistoleiros de antigamente. Também o cenário por onde singram –um árido deserto americano nos arredores do Novo México –ajuda nessa relação.
Jack Crow e seu grupo estão no encalço do mais poderoso dos vampiros, Valek (Thomas Ian Griffith) que tem, também ele, seus planos.
Valek quer por a mão em uma relíquia, uma cruz centenária que, segundo contam as lendas, pode neutralizar sua maior fraqueza, permitindo aos vampiros caminhar à luz do sol.
Já no princípio de sua missão, Jack Crow já tem seu grupo quase todo dizimado pelo poderoso Valek –em compensação, sua retribuição é implacável, eliminando também a horda de vampiros de Valek deixando-o sozinho em sua busca.
A Jack Crow resta o fiel Montoya (Daniel Baldwin) que se dedica a cuidar (e, mais tarde, enamorar-se) da prostituta Katrina (Sheryl Lee, de “Os Últimos Dias de Laura Palmer”), uma vítima de Valek que, a exemplo das outras, está em processo de converter-se, também ela, em uma vampira.
O filme se debruça assim sobre os percalços dos dois antagonistas maiores, Jack Crow e Valek –de Crow, ele acompanha sua aliança com o padre Guiteau (Tim Guinee) e seu plano de usar a conexão psíquica de Katrina com o vampiro para enfim encontrá-lo; de Valek, ele registra seus ataques sistemáticos na busca para criar novos lacaios, enquanto procura por sua preciosa relíquia.
O confronto final entre os dois, inadvertidamente situado no clímax do filme, é alcançado num ritmo cadenciado, característico das atmosferas cheias de suspense e apoteose do Velho Oeste, exatamente como almejava seu realizador.

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