quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Sangue de Vingança

Meio filme de Yakuza, meio filme de época, este “Sangue de Vingança” se passa no início do Século XX, em 1907, na cidade de Osaka, reconstituída num primoroso e ostensivo trabalho de estúdio cuja ocasional artificialidade parece corresponder às camaradagens dúbias que se vê sendo esboçadas na narrativa.
A cena inicial mostra o chefe do Clã Kiyatatsu sendo atacado traiçoeiramente durante festejos populares no meio da rua.
Uma celeuma se instala, sobretudo, entre seus subordinados: É para eles uma audácia atentar tão abertamente contra seu chefe, e tal provocação merece uma retaliação à altura.
No entanto, o chefe Kiyatatsu não deseja que as coisas sigam esse rumo –ele almeja a transparência completa de seus negócios, afastando seu nome dos assuntos obscuros relativos à máfia japonesa. Para tanto, ele não irá se vingar; ao menos, não da forma truculenta e baseada no olho-por-olho com que os yakuzas o fariam. Essa notícia soa como uma afronta ao seu impulsivo filho, cuja intuição sabe muito bem ser um dos clãs renegados de Osaka os responsáveis pela ataque ao seu pai.
Um de seus comandados, seu fiel braço-direito, compreende integralmente a posição do filho, mas acata obediente a decisão do pai.
E assim, os inimigos de fato –os membros do clã adversário –promovem sucessivas manobras para sabotar seus negócios valendo-se de mentiras deslavadas, táticas criminosas, perfídia e falsidade.
Grande mestre de um determinado tipo de filme de yakuza que, nos anos 1960, acostumou-se chamar de ‘ninkyo-eiga’, nos quais a premissa punha em evidência a rigidez dos códigos de honra entre yakuzas, o diretor Tai Kato concebe um drama policial que coloca seus personagens diante de uma prova de resistência: São paulatinamente intoleráveis as provações e provocações que o protagonista e seus aliados precisam suportar para não ceder ao desejo de responder seus antagonistas com violência e manter-se do lado correto da Lei.
Essa prova de resistência se estende, também, ao expectador: Tão denso é o seu suspense, tão bem desenhados os seus personagens, e tão habilmente delineada suas intrigas que o filme inevitavelmente passa a sensação de que todo seu núcleo dramático é uma panela de pressão prestes a explodir.

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