Um dos filmes mais vulgares e sem noção que eu
vi recentemente este “Miss Março”. A verdade é que para o público adulto é
relativamente fácil acostumar-se a filmes de boa qualidade e deixar de lado
obras de mau gosto como esta, já os adolescentes em geral –público-alvo deste
filme, não há dúvida –não devem se incomodar com o excesso de impropérios
verbais, com as piadas de cunho sexual, com o humor de porta de banheiro e a
técnica cinematográfica nula desta realização.
Um dado curioso é o fato dele ser dirigido pela
mesma dupla que interpreta seus dois protagonistas, os atores Zach Cregger e
Trevor Moore, integrantes do grupo cômico “The Whitest Kids U’Know” –ou seja,
“Miss Março” é uma oportunidade de perceber que, seja na frente das câmeras
como intérpretes ou atrás delas como diretores, eles não entendem nada de coisa
alguma.
Filmes demasiadamente ruins sempre me são
intrigantes: Para que existam não é necessário tão somente uma péssima ideia de
um realizador sem talento. Não; é necessário que toda uma equipe técnica, todo
um numeroso elenco e até um estúdio de cinema tenham comprado essa péssima
ideia considerando que ela renderia um filme decente.
É difícil encontrar, em “Miss Março”, em qual
momento essa impressão surgiu: Desde criança os inseparáveis amigos Eugene
(Cregger) e Tucker (Moore) cultivam personalidades bem diferentes.
Enquanto Eugene tornou-se um depravado
particularmente obcecado pelo estilo de vida da revista Playboy –que ele e o
amigo acharam no quarto do irmão mais velho num marcante episódio da infância
–Tucker é quase o seu oposto; comportado, introvertido e celibatário a ponto de
ser quase bizarro.
Entretanto, à beira de seus dezoito anos e
prestes a se formar, Tucker tem uma linda namorada, Cindi (Raquel Alessi, um
espetáculo), com quem compartilha a decisão de se manterem castos até o dia do
casamento –a palestra que os dois prestam sobre o assunto para um plateia de
crianças é um exemplo preciso do humor que eles tentam fazer hilário e
espontâneo, mas resulta constrangedor e ultrajante.
No entanto, Cindi convence Tucker de burlar as
regras e transar no dia da formatura. No hora H, enquanto Cindi o aguarda no
quarto, Tucker sofre um bizarro acidente que o deixa em coma por quatro anos
(!).
Quando acorda, somente Eugene está ao lado de
seu leito: Cindi desapareceu e o abestalhado amigo não sabe dizer seu
paradeiro. Logo, porém, ele descobre: Cindi pousou nua para a revista Playboy
–a obsessão de Eugene, lembre-se –e enfeita, como veio ao mundo, o poster central
da edição de março.
Deduzindo precipitadamente que garotas que
posam nuas são promíscuas e prostitutas, Tucker acredita que ela o abandonou e
entregou-se a todos os homens que pôde nos últimos quatro anos e, com a dor de
cotovelo mais forte do que nunca, resolve atravessar o país junto do amigo e
chegar em Los Angeles para ir até a lendária Mansão Playboy e, numa de suas baladas
festas (com direito às redundantes participações especiais do próprio Hugh
Hefner em pessoa e da modelo Sara Jean Underwood), encontrar Cindi e tirar-lhe
a devida satisfação.
Em seu miolo, o trabalho da dupla
Cregger/Trevor é, portanto, um road movie onde situações se seguem obedecendo
uma fórmula e uma dinâmica específicas e imediatamente reconhecíveis onde
Cregger é o irrequieto causador dos problemas e Trevor o amigo passivo e calmo
que quase sempre leva a pior –algo que gênios autênticos da comédia como “O
Gordo e o Magro” ou Walter Mathau e Jack Lemmon fizeram antes e muito melhor.
O trabalho de encenação e
até mesmo o teor incontornavelmente adulto das piadas parece ter como objetivo
final as cáusticas e impagáveis obras dos Irmãos Farrelly, politicamente
incorretas ao extremo, mas falta aos dois jovens realizadores talento para
alcançar tal resultado: “Miss Março” afunda em piadas chulas que não conseguem
ter graça e nem tampouco viabilizam as motivações esdrúxulas de sua premissa.
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