O conceito, e por que não o personagem
principal também, de “Juventude Transviada” servem aos propósitos narrativos
deste filme do diretor Fritz Kiersch –um jovem lidando com problemas pessoais
na ebulição de seus hormônios e de seu temperamento –contudo, como tal filme
trata-se de uma aventura escapista bastante típica dos anos 1980, o ‘rebelde
sem causa’ é convertido aqui numa espécie de superherói estudantil oposto a um
grupo maligno de vilões que nada mais são do que deliquentes que ameaçam os
alunos de um colégio suburbano.
O que afasta a realização do banal é que seu
diretor abraça a união desses conceitos em princípio incompatíveis (o herói
cujos recursos servem a uma cruzada contra seus inimigos, representantes
inconfundíveis das forças do mal; e o drama juvenil de precisar se impor num
ambiente completamente novo e hostil) e constrói, com isso, uma aventura
pulsante, orgânica e vibrante sobre jovens em rota de colisão.
Se existem reflexões –a analogia da luta de
classes, talvez –elas se perdem em redundância diante da condução envolvente
que é obtida aqui.
Ostentando algum carisma e alguma autoridade –e
assim, fazendo alguma justiça à memória de James Dean –o jovem James Spader
empresta certa segurança ao protagonista Morgan Hiller, um jovem de famíla rica
vindo de Connecticut, cuja falência do pai o leva a mudar-se para a Califórnia
–e, por conta disso, para uma espécie diferente da escola com a qual estava
acostumado.
Todavia, como é providencialmente sugerido numa
citação feita logo no começo (“Grandes espíritos encontram violenta oposição”),
a nova escola será um teste de fogo: O lugar é dominado por gangues de
delinquentes e, de pronto, o porte de Morgan já lhes inspira imediato
antagonismo.
Não que ele não faça amigos –o deslocado jovem
vivido por um iniciante Robert Downey Jr. é um deles –mas, seus inimigos são
mais emblemáticos: O líder da gangue, Nick (Paul Mones, à beira da histeria),
vira praticamente seu inimigo mortal –animosidade intensificada quando Morgan
começa a flertar (e é correspondido!) com a namorada dele, Frankie (Kim
Richards).
Analisado com
imparcialidade –e descontando a mágica transfiguração da nostalgia da década de
1980 –“Tuff Turf” é uma realização vasta em elementos questionáveis: Os
diálogos do roteiro, em especial, são particularmente mal elaborados; espera-se
o tempo todo que alguma informação relevante vá sair da boca de algum
personagem, algum indício de suas motivações, algum detalhe mais elucidativo do
passado do protagonista em Connecticut onde vivia como burguês (diferente da
mudança de vida em Los Angeles), mas não há absolutamente nada. É, no entanto,
a direção de Fritz Kiersch que impõe um estilo por meio do qual o filme
consegue se fazer memorável: Na natureza juvenil e eletrizante do triângulo
amoroso central, na concepção colorida e deliberadamente afetada de inúmeras
cenas que, por isso mesmo, ficam na memória (a coreografia insana nas cenas de
dança, sobretudo, aquela em que Kim Richards chama a atenção numa danceteria;
os vários enfrentamentos do herói contra os delinquentes) e na dramatização
quase operística que é feita de intrigas e desavenças suburbanas que ganham
aqui ares épicos do embate do bem contra o mal.
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