Lançado no Festival de Cannes de 2001, durante
o advento das ‘versões especiais do diretor’ de filmes em DVD, “Apocalypse Now
Redux” representava um novo e diferenciado corte de Francis Ford Coppola em
relação à sua obra-prima lançada em 1979.
O “Apocalypse Now” que todos conheciam, e que
não tardou a converter-se numa marco fundamental do cinema, era um cópia bruta,
despida de cenas que, segundo Coppola, acrescentavam novas camadas à trama;
dessa forma, esta versão “Redux” era inusitadamente acrescida por quase uma
hora de material inédito que, segundo o próprio Coppola, tinha o mérito de
tornar mais ágil o material.
O filme que começa é o mesmo e magistral de
sempre: Ao som apoteótico e apropriadamente dramático de “The End”, do The Doors,
somos apresentados ao Capitão Willard (Martin Sheen) e às suas neuroses –no
Vietnam, ele anseia por voltar para casa; quando em casa, ele sente falta da
guerra.
Logo, ele recebe uma missão para ocupar sua
mente transtornada: Deve subir um rio até adentrar o Camboja a bordo de um
barco militar, infiltrado entre a tripulação, e uma vez lá eliminar o mítico
Coronel Kurtz (Marlon Brando), um oficial extremamente graduado que enlouqueceu
em regiões muito distantes da civilização, e lá montou um império particular.
As primeiras diferenças em relação ao filme
original surgem logo após a espetacular cena do bombardeio ao som de “A
Cavalgada das Valquírias”, quando Willard (um personagem sem expressões de
sarcasmo na outra versão) convence os soldados a roubarem a prancha de surf do
megalomaníaco oficial interpretado por Robert Duvall. Na sequência, a cena do
show das coelhinhas da Playboy ganha um formidável e aprofundado acréscimo
quando Willard e os outros recrutas reencontram as garotas num acampamento militar
decadente transformado praticamente em prostíbulo.
Contudo, o trecho que realmente justifica a
existência desta versão “Redux” é mesmo o imenso bloco de quase uma hora de
duração, lá pelo início do terço final, onde Willard encontra uma fazenda
mantida por militares franceses em pleno Vietnam –cena apelidada pelo diretor
de “Fantasmas de Buñuel” –onde os protagonistas encontram personagens
aprisionados pela própria irredutibilidade de sua ideologia.
O interlúdio de Willard com a bela moradora do
lugar (Aurore Clément, de “Paris, Texas”) introduz uma inesperada dose de
erotismo na ópera bélica de Coppola.
Todo seu trecho final, entretanto, manteve-se
intocado (prova de que realmente não havia como tornar melhor e mais antológica
toda aquela passagem), quando Willard e o que sobrou de sua tripulação,
triturados pela loucura, chegam ao extremo de não-civilização onde reina Kurtz,
ameaçador e icônico como só um monstro como Marlon Brando seria capaz de
interpretar.
Concebido como uma livre
adaptação do livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad –transpondo da
ambientação da África colonial do Século XIX para a Guerra do Vietnam –o filme
de Coppola é uma surreal jornada de pesadelo filosófico, materializada após
dois anos infernais de filmagens caóticas. A versão original e oficial até
então conhecida era de uma perfeição e de um assombro que dificilmente uma nova
releitura seria capaz de ombrear; e, de fato, “Redux” embora fascine por trazer
novos adendos à uma narrativa tão hipnótica não consegue retocar o que já era
irretocável –as cenas novas esticam consideravelmente a experiência
afetando-lhe o ritmo, que na versão original transcorria com exatidão e
fluidez.
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