Muito aclamada devido ao sucesso de público e
crítica de “Onze Homens e Um Segredo” e suas continuações, a parceria entre o
diretor Steve Sodenbergh e o astro George Clooney começou, de fato, neste
sensacional “Irresistível Paixão”.
Aliás, astro pode ser termo, à época,
precipitado para atrelar à George Clooney: Tendo deixado a série “Plantão
Médico” para protagonizar o frustrante “Batman & Robin” –a mais
catastrófica versão do Homem-Morcego para os cinemas –Clooney ainda não era um
dos grandes nomes de Hollywood, mas, havia ganho tanto dinheiro para estrelar o
mal-fadado filme que, na sequência, descobriu ter o privilégio de escolher a
dedo seus projetos seguintes: Se colocar dinheiro no bolso já não era mais
prioridade, ele podia passar a almejar a qualidade.
Foi assim que Clooney envolveu-se em trabalhos
prestigiados como a aventura marinha “Mar Em Fúria”, o drama de guerra “Três
Reis” e esta notável adaptação de Elmore Leonard, uma trama intrincada (bem ao
gosto do autor) que, lá no fundo, versava sobre um caso de amor improvável
entre um ladrão de bancos e uma oficial de justiça.
Clooney é Jack Foley, cujo orgulho é ter
assaltado quase duzentos bancos sem jamais precisar sacar uma arma, em vez
disso, Foley se valia de esperteza, inteligência e uma astúcia prodigiosa –características
que ele põe em prática já na primeira cena.
Não adianta muito: Por um golpe de azar, ele
vai preso mesmo assim.
Amargando mais algum tempo na prisão –e
começando a concluir, por conta disso, que seu próximo golpe deve render sua
aposentadoria definitiva desse negócio –Foley participa de uma fuga em massa,
de cujo fracasso ele se desvencilha graças à cumplicidade do amigo Buddy (Vhing
Rhames) e a casual aparição no local da agente federal Karen Sisco (a maravilhosa
Jennifer Lopez, no papel que ajudou a construir sua imagem de símbolo sexual
dos anos 1990) no carro de quem eles empreendem sua escapada.
Dividindo o porta-malas (eles a levam como
refém), Foley e Karen trocam alguns minutos de conversa onde o diretor Sodenbergh
permite-se vislumbrar com satisfação e exultação a química espetacular que
Clooney e Jennifer compartilham em cena; é uma pena que eles não tenham feito
outros filmes juntos.
A partir daí, revelando o gosto do hábil
roteirista Scott Frank (de “Um Plano Simples” e “Minority Report-A Nova Lei”)
para tramas elaboradas e fragmentadas, o filme se divide em duas linhas
distintas de tempo, destinadas a se encontrar (e a se complementar) quando o filme
de Sodenbergh atingir seu clímax: Numa delas, passada dois anos antes, vemos
Foley em uma prisão da Flórida junto de outros detentos, entre eles, o
estelionatário ricaço Ripley (Albert Brooks, de “A Musa” e “Bem-Vindo Aos 40”)
e o ex-pugilista e bandidão barra-pesada Snoopy (o simpático Don Cheadle aqui,
contudo, ameaçador). Na outra, evidentemente, acompanhamos os eventos
subsequentes à fuga de Foley, suas tentativas de escapar ao jugo da polícia e
do FBI e de prosseguir, ao lado de Buddy, com seu derradeiro golpe, aquele com
o qual ele almejava se aposentar (assaltar a mansão de Ripley ao lado de Snoopy); além, é claro, das investigações por conta
própria da esperta e persistente Karen Sisco que deseja reencontrar Jack, para
prendê-lo novamente, ou quem sabe, descobrir o que é essa estranha atração que
sentem.
Naquele ano, 1998,
“Irresistível Paixão” chegou às salas de cinema capitaneando um formidável
abalo sísmico no cinema comercial norte-americano, ao substituir as pirotecnias
em voga nas produções de então por uma inteligência instigante e à toda prova
–uma tendência inesperada e salutar que moldaria um pico insuspeito de
qualidade entre as obras hollywoodianas naqueles anos –grande responsável pelo
êxito deste filme foi também o tratamento sempre diferenciado de Steve
Sodenbergh, um entusiasta nítido e confesso das narrativas antigas da Velha
Hollywood, sobretudo, os filmes de gangster e os filmes noir. São tons e
atmosferas que ele atribui à este brilhante e bem calibrado conto de polícia e
ladrão, temperado com bem-vinda sensualidade, imprevisto requinte e palpitante
virilidade: Sim, pois, em seu tumultuado, eletrizante e divertido desfecho não
tenha dúvidas, o romance entre Jack Foley e Karen Cisco termina em bala!
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