Embora situado na Costa Oeste americana –mais
precisamente em L.A., Hollywood –e, por isso mesmo, uma oportunidade nem um
pouco desperdiçada para uma sátira ao mundo do cinema, o humor realizado pelo
ator e diretor Albert Brooks, em toda sua verve loquaz e sua observação
auto-irônica, está fadado à injusta comparação com a obra de Woody Allen.
É bem verdade que ele não faz nada para ajudar:
Numa série do que parecem ser reflexos condicionados, ele escala a si mesmo
como protagonista; num personagem que ainda por cima, na reflexão sobre os
dilemas da criação lhe é um perfeito alter-ego; cria diálogo intelectualizados
em tom de galhofa; e discorre em seu roteiro um sem-fim de incertezas e
neuroses acerca do processo criativo e, em última instância, da relação entre
homens e mulheres.
Do jeito como está, Albert Brooks parece,
portanto, clamar por ser visto como um herdeiro de Woody Allen.
Seu personagem é Steven Phillips, roteirista
que acabou de receber um prêmio humanitário pela carreira em Hollywood –prêmio
este apresentado por Cybill Sheperd.
Nem tudo, porém são flores: Já na manhã
seguinte, Steven descobre o pouco interesse que seu nome desperta nos figurões
de Hollywood. Seu último roteiro foi recusado por sua absoluta falta de graça e
ele corre o risco de não conseguir mais emprego para sustentar sua mulher
(Andie MacDowell) e seus filhos.
Ao procurar por um amigo (Jeff Bridges) para
chorar suas pitangas, ele recebe uma sugestão improvável e estranha: Recorrer
aos serviços de uma musa (!), uma mulher dotada de capacidades indescritíveis
de inspirar outros indivíduos, descendente direta das nove musas da mitologia
grega.
Interpretada por Sharon Stone com a exuberância
de quem sabe ser a estrela do filme, a musa Sarah Little vai de encontro com o
que se imagina dela: Já chega requisitando regalias como um luxuoso quarto de
hotel, mordomias de superstar e extravagâncias culinárias dignas dos mais
arrojados restaurantes.
Steven, que tem lá suas incredulidades em
relação à musa sugerida pelo amigo, tem medo de que realmente sua inspiração
não volte, e por isso submete sua predisposição a ser pão duro aos caprichos da
musa –o que a leva, da suíte caríssima de hotel, a hospedar-se na casa dele
próprio (!). Ironicamente, a presença da musa acaba inspirando a mulher de
Steven que, incentivada pelos elogios aos seus biscoitos inicia uma
bem-sucedida parceria com o chef de cozinha de um restaurante.
Acertando no gracioso quando mirava no ferino,
o filme de Albert Brooks não destila a acidez contra o meio cinematográfico que
ele gostaria (as pontas de Rob Reiner, James Cameron e Martin Scorsese são
ilustrativas do deboche absolutamente inocente que ele faz), além de tratar a
questão da “musa” de modo superficial, embora até guarde uma surpresa um pouco
divertida em seu desfecho.
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