Clássico infantil assombrado pelo viés elitista
e culto que sempre o envolveu, o “Quebra-Nozes” ganhou em 2010 do diretor
Andrei Konchalovsky uma adaptação esmerada (empenhada, inclusive em preencher
arestas então despercebidas de sua premissa; ganhando assim o sub-título “A
História Não Contada”) e que não consegue escapar do entrave que normalmente
faz dele algo inacessível: A erudição e as músicas clássicas que intervêm numa
narrativa supostamente infantil.
As crianças não têm paciência com música
clássica –daí o fato de “Fantasia”, de Walt Disney, ser normalmente mais
apreciado pelo público adulto.
Konchalovsky até busca engendrar um meio que
moldar tais músicas ao andamento natural do roteiro, mas, sua pouca experiência
para com o melindroso gênero musical o trai: Os atores, no geral, não ocultam
um ocasional constrangimento durante as cantorias; as músicas não resultam
envolventes ou interessantes o bastante para justificar sua inserção nas
passagens que se seguem; e o arranjo do desenho de som com a trilha sonora se
revela frouxo e redundante.
Entretanto, o diretor também consegue agregar
alguns valores positivos ao filme, o que contribui para um equilíbrio mais razoável
no seu resultado final.
Na Áustria, a garota Mary (Elle Fanning, um dos
acertos do filme) é sonhadora, no que recebe um paternal incentivo de seu Tio
Albert (Nathan Lane), em contraponto à frieza indiferente –e ocasionalmente
rude –do pai (Richard E. Grant).
Tio Albert, como ficará claro, não somente é um
personagem catalisador da trama –a despeito de ser coadjuvante –como é, o
próprio Albert Einstein (!), num arranjo que, embora divertido, não encontra
maiores propósitos.
Ganhando de presente dele um boneco
quebra-nozes, Mary se depara, na noite de Natal, com seu brinquedo vivo e
falando (!), afirmando para ela que todas as coisas inanimadas estão, na
realidade vivas, como seus brinquedos da casa de bonecas ou os adereços da
árvore de Natal. Conduzida pelo Quebra-Nozes, a menina toma conhecimento de um
reino cujo príncipe de direito foi transformado por maldição num boneco de
madeira –o próprio Quebra-Nozes –e terminou destituído por um Rei Rato (John
Turturro, impagável) com auxílio da feitiçaria de sua mãe (Frances de La Tour,
de “Harry Potter e O Cálice de Fogo”).
A chegada de Mary ao reino simboliza a presença
de alguém capaz de quebrar a maldição e dar novo rumo à disputa pelo reino.
Embora haja zelo no aspecto aventuresco da
narrativa, o diretor encontra complicações no excesso de personagens (que
ganham diálogo longos que isolam suas cenas uns dos outros) e na premissa algo
intrincada acerca da tentativa dos “ratos” em tentar ocultar indícios de seu
mundo na ‘realidade’, fazendo com que os minutos que passam drenem pouco a
pouco a vontade do expectador em chegar ao fim.
Se esse aspecto narrativo se revela falho, a
concepção de arte, com um desenho de produção quase cyberpunk, possui momentos
inspirados que valorizam as cenas de ação em especial as transcorridas no
clímax do filme, e acabam salvando um pouco da diversão.
Por isso mesmo, uma produção curiosa e
desigual, fadada a ganhar cada vez mais obscuridade na memória cinéfila.
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