terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O Quebra-Nozes


Clássico infantil assombrado pelo viés elitista e culto que sempre o envolveu, o “Quebra-Nozes” ganhou em 2010 do diretor Andrei Konchalovsky uma adaptação esmerada (empenhada, inclusive em preencher arestas então despercebidas de sua premissa; ganhando assim o sub-título “A História Não Contada”) e que não consegue escapar do entrave que normalmente faz dele algo inacessível: A erudição e as músicas clássicas que intervêm numa narrativa supostamente infantil.
As crianças não têm paciência com música clássica –daí o fato de “Fantasia”, de Walt Disney, ser normalmente mais apreciado pelo público adulto.
Konchalovsky até busca engendrar um meio que moldar tais músicas ao andamento natural do roteiro, mas, sua pouca experiência para com o melindroso gênero musical o trai: Os atores, no geral, não ocultam um ocasional constrangimento durante as cantorias; as músicas não resultam envolventes ou interessantes o bastante para justificar sua inserção nas passagens que se seguem; e o arranjo do desenho de som com a trilha sonora se revela frouxo e redundante.
Entretanto, o diretor também consegue agregar alguns valores positivos ao filme, o que contribui para um equilíbrio mais razoável no seu resultado final.
Na Áustria, a garota Mary (Elle Fanning, um dos acertos do filme) é sonhadora, no que recebe um paternal incentivo de seu Tio Albert (Nathan Lane), em contraponto à frieza indiferente –e ocasionalmente rude –do pai (Richard E. Grant).
Tio Albert, como ficará claro, não somente é um personagem catalisador da trama –a despeito de ser coadjuvante –como é, o próprio Albert Einstein (!), num arranjo que, embora divertido, não encontra maiores propósitos.
Ganhando de presente dele um boneco quebra-nozes, Mary se depara, na noite de Natal, com seu brinquedo vivo e falando (!), afirmando para ela que todas as coisas inanimadas estão, na realidade vivas, como seus brinquedos da casa de bonecas ou os adereços da árvore de Natal. Conduzida pelo Quebra-Nozes, a menina toma conhecimento de um reino cujo príncipe de direito foi transformado por maldição num boneco de madeira –o próprio Quebra-Nozes –e terminou destituído por um Rei Rato (John Turturro, impagável) com auxílio da feitiçaria de sua mãe (Frances de La Tour, de “Harry Potter e O Cálice de Fogo”).
A chegada de Mary ao reino simboliza a presença de alguém capaz de quebrar a maldição e dar novo rumo à disputa pelo reino.
Embora haja zelo no aspecto aventuresco da narrativa, o diretor encontra complicações no excesso de personagens (que ganham diálogo longos que isolam suas cenas uns dos outros) e na premissa algo intrincada acerca da tentativa dos “ratos” em tentar ocultar indícios de seu mundo na ‘realidade’, fazendo com que os minutos que passam drenem pouco a pouco a vontade do expectador em chegar ao fim.
Se esse aspecto narrativo se revela falho, a concepção de arte, com um desenho de produção quase cyberpunk, possui momentos inspirados que valorizam as cenas de ação em especial as transcorridas no clímax do filme, e acabam salvando um pouco da diversão.
Por isso mesmo, uma produção curiosa e desigual, fadada a ganhar cada vez mais obscuridade na memória cinéfila.

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