No princípio deste usual e frenético filme de Wes Craven vemos cenas que se seguem aparentemente destituídas de uma relação (ou não): Uma carga misteriosa aparece num carregamento náutico; uma carteira (com as iniciais JR) é roubada numa casa onde vemos fotos da personagem de Rachel McAdams; essa personagem, de nome Lisa, aparece num táxi a caminho do aeroporto, ávida por pegar o voo de volta à Miami, onde trabalha como gerente em um hotel cinco estrelas.
Como num hábil suspense concebido em torno das
preciosas lições do mestre Alfred Hitchcock, as impressões aleatórias dessas
cenas iniciais logo desaparecerão a medida que o roteiro elaborado por Carl
Ellsworth e Dan Foos une cada uma das pontas e revela todos os propósitos
daquilo que vemos transcorrer.
No Hotel Lux Atlantic –no qual Lisa trabalha,
com tamanha competência que sua ausência transforma as tarefas de sua
substituta Cynthia (Jayma Mays, de “Feito Na América”) num inferno –haverá um
evento incomum; o lugar receberá a visita de Charles Keefe (Jack Scalia),
político influente e de implacável política desarmamentista.
No início, nada disso parece interferir na
viagem de volta de Lisa, cujo voo parece ter atrasado. Em espera no aeroporto,
ela faz amizade com alguns passageiros que estarão com ela no mesmo avião. Um
deles é Jack Rippner (Cillian Murphy, sempre eficaz) que se mostra simpático,
cortês e solícito –características que, num filme de suspense dirigido por Wes
Craven já despertam desconfiança.
Uma série de coincidências –também elas cheias
de desconfiança –colocam Lisa na poltrona lateral à de Jack, e logo eles
iniciam uma conversa descontraída enquanto o avião decola.
É em pleno ar que Jack revela à Lisa todo o seu
plano, sem preocupar-se em mentir: Foi ele (ou os homens em seu comando) quem
roubou a carteira do pai de Lisa (Brian Cox), uma prova de que eles o têm em
sua mira.
A chantagem é simples: Lisa deve pegar um
telefone e usar de sua autoridade no Hotel Lux Atlantic para mudar Keefe (que
logo chegará lá) de quarto –um quarto onde possa ser alvo para o atentado
engendrado por Jack e seus contratantes.
Se Lisa fizer isso, estará salvando a vida de
seu pai.
Praticamente toda a filmografia de Wes Craven
gira em torno da premissa básica de uma mulher em apuros. Aqui, ele cerca esse
plot com elementos extraídos de uma das sensações cinematográficas de então, a
“Trilogia Bourne”, abrindo mão dos expedientes de terror que norteiam em geral
suas obras e adotando uma narrativa dinâmica, onde os detalhes convergem a uma
situação simples que centraliza a ação: A chantagem dentro de um avião em meio
à uma dinâmica tensa que se mantém entre duas poltronas –para tanto, grande
parte do filme se dedica aos closes expressivos da ótima Rachel McAdams,
fazendo um belíssimo trabalho.
O roteiro, com algumas firulas em demasia,
dedica-se a mostrar os caminhos
tortuosos que ela tomará para desvencilhar-se dessa encrenca sem ceder às
imposições do mal; por conta disso, a meia hora final abandona o suspense
restrito, aflitivo e verbal que vinha construindo para abraçar elementos de
ação e perseguição desenfreada –terreno no qual, quando muito, Wes Craven se
revela correto.
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