quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O Albergue 2

 


Como todo filme de terror que se preze, a continuação do excelente filme de Eli Roth –um dos responsáveis em lançar as bases para o terror extremo, denominado pela indústria de ‘torture porn’ –renova todo seu elenco principal a fim de oferecer vítimas novas aos assassinos da vez.

Antes disso, entretanto, há um prólogo onde acompanhamos, exatamente a partir do final do primeiro filme, o que se sucedeu com o personagem de Jay Hernandez, protagonista da produção anterior. Em seguida, entram em cena as novas manobras narrativas da parte de Eli Roth (aqui tão roteirista quanto diretor) que visam aprofundar ainda mais os detalhes em torno daquele universo de sangue e mutilação que ele começou a engendrar.

Desta vez, vemos não apenas os acontecimentos sucessivos do ponto de vista das vítimas –que, agora, ao contrário do filme anterior, são três garotas viajantes (e não atraídas pela promessa de sexo farto como antes) –mas, também do ponto de vista dos algozes, e por conta disso, a movimentação das engrenagens por meio das quais se dá todo o contexto bastante criativo no qual a trama desses dois filmes se desenvolve.

As americanas Beth (Lauren German, de “O Massacre da Serra Elétrica”), Whitt (Bijou Phillips, de “Garotas Sem Rumo”) e Lorna (Heather Matarazzo, de “Bem-Vindo À Casa de Bonecas” e “O Diário da Princesa”) estão em viagem pela Itália –o que abre espaço para uma participação especial da atriz Edwige Fenech, musa do ‘giallo’, um dos gêneros inspiradores de Roth –e, a bordo de um trem, conhecem a bela Axelle (Vera Jordanova) que as convence a ir à Eslováquia onde, segundo diz, as fontes de águas termais são paradisíacas.

Paralelamente, naquela que é a grande contribuição deste segundo filme em relação ao seu primeiro, acompanhamos o leilão on-line, a partir do momento em que fica claro que as turistas americanas (então instaladas no mesmo albergue que abrigou os incautos protagonistas do filme anterior) haverão de ser as próximas vítimas dos doentios negociantes eslovacos, que vendem aos seus ricos, entediados e psicóticos clientes a chance de matar com impunidade jovens inocentes capturados por eles.

Os clientes da vez são Todd (Richard Burgi, de “Em Seu Lugar”) e Stuart (Roger Bart, de “Trumbo-Lista Negra”); se Todd é o playboy rico, arrogante e despreocupado que arrasta o amigo para outro país a fim de perpetrar algo mais radical do que o normal, Stuart, por sua vez, surge como o parceiro tímido, inferior e passivo –as cenas domésticas dele, menosprezado pela esposa e filhos são significativas. Todd vê na oportunidade do assassinato pago um meio de reafirmar sua virilidade; Stuart quer, sem lá muita convicção, extravazar sua raiva acumulada.

Há uma inesperada humanização dessa dinâmica entre vítima e (iminente) assassino, quando Beth e Stuart têm um breve contato durante uma das festividades locais. Logo, porém, as garotas começam a serem capturadas uma a uma –começando pela tremendamente ingênua Lorna, seguida de Whitt, e por fim, Beth –e o pesadelo tem início.

Mostrando uma admirável compreensão dos empuxos cinematográficos e qualitativos do gênero, o diretor Roth –que aqui fez um filme visualmente mais esmerado que o anterior –oferece uma interessantíssima observação acerca da psicologia dos dois homens prestes a matar, Todd e Stuart: O primeiro, tão cheio de bravatas e de um discurso impiedoso e sólido, ironicamente é quem cede e se arrepende diante do horror de matar; já, Stuart, mesmo que inicialmente compadecido da sua vítima, Beth, descobre em si o psicopata que não sabia existir, e com isso resolve liberar toda sua vontade de torturar e matar.

E felizmente, não são só essas as inteligentes surpresas reservadas por “O Albergue 2” –sem fugir dos elementos que ele mesmo plantou em seu primeiro filme (e que moldam uma nova franquia de terror bem-vinda em sua originalidade), o diretor Roth foi esperto em saber como expandir esses elementos em novas informações e toda uma nova empreitada narrativa que se revela tão interessante, empolgante e palpitante quanto o filme anterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário