Como todo filme de terror que se preze, a continuação do excelente filme de Eli Roth –um dos responsáveis em lançar as bases para o terror extremo, denominado pela indústria de ‘torture porn’ –renova todo seu elenco principal a fim de oferecer vítimas novas aos assassinos da vez.
Antes disso, entretanto, há um prólogo onde
acompanhamos, exatamente a partir do final do primeiro filme, o que se sucedeu
com o personagem de Jay Hernandez, protagonista da produção anterior. Em
seguida, entram em cena as novas manobras narrativas da parte de Eli Roth (aqui
tão roteirista quanto diretor) que visam aprofundar ainda mais os detalhes em
torno daquele universo de sangue e mutilação que ele começou a engendrar.
Desta vez, vemos não apenas os acontecimentos sucessivos
do ponto de vista das vítimas –que, agora, ao contrário do filme anterior, são
três garotas viajantes (e não atraídas pela promessa de sexo farto como antes)
–mas, também do ponto de vista dos algozes, e por conta disso, a movimentação das
engrenagens por meio das quais se dá todo o contexto bastante criativo no qual
a trama desses dois filmes se desenvolve.
As americanas Beth (Lauren German, de “O Massacre da Serra Elétrica”), Whitt (Bijou Phillips, de “Garotas Sem Rumo”) e
Lorna (Heather Matarazzo, de “Bem-Vindo À Casa de Bonecas” e “O Diário da Princesa”) estão em viagem pela Itália –o que abre espaço para uma participação
especial da atriz Edwige Fenech, musa do ‘giallo’, um dos gêneros inspiradores
de Roth –e, a bordo de um trem, conhecem a bela Axelle (Vera Jordanova) que as
convence a ir à Eslováquia onde, segundo diz, as fontes de águas termais são
paradisíacas.
Paralelamente, naquela que é a grande
contribuição deste segundo filme em relação ao seu primeiro, acompanhamos o
leilão on-line, a partir do momento em que fica claro que as turistas
americanas (então instaladas no mesmo albergue que abrigou os incautos
protagonistas do filme anterior) haverão de ser as próximas vítimas dos
doentios negociantes eslovacos, que vendem aos seus ricos, entediados e
psicóticos clientes a chance de matar com impunidade jovens inocentes
capturados por eles.
Os clientes da vez são Todd (Richard Burgi, de
“Em Seu Lugar”) e Stuart (Roger Bart, de “Trumbo-Lista Negra”); se Todd é o
playboy rico, arrogante e despreocupado que arrasta o amigo para outro país a
fim de perpetrar algo mais radical do que o normal, Stuart, por sua vez, surge
como o parceiro tímido, inferior e passivo –as cenas domésticas dele,
menosprezado pela esposa e filhos são significativas. Todd vê na oportunidade
do assassinato pago um meio de reafirmar sua virilidade; Stuart quer, sem lá
muita convicção, extravazar sua raiva acumulada.
Há uma inesperada humanização dessa dinâmica
entre vítima e (iminente) assassino, quando Beth e Stuart têm um breve contato
durante uma das festividades locais. Logo, porém, as garotas começam a serem
capturadas uma a uma –começando pela tremendamente ingênua Lorna, seguida de
Whitt, e por fim, Beth –e o pesadelo tem início.
Mostrando uma admirável compreensão dos empuxos
cinematográficos e qualitativos do gênero, o diretor Roth –que aqui fez um
filme visualmente mais esmerado que o anterior –oferece uma interessantíssima
observação acerca da psicologia dos dois homens prestes a matar, Todd e Stuart:
O primeiro, tão cheio de bravatas e de um discurso impiedoso e sólido,
ironicamente é quem cede e se arrepende diante do horror de matar; já, Stuart,
mesmo que inicialmente compadecido da sua vítima, Beth, descobre em si o
psicopata que não sabia existir, e com isso resolve liberar toda sua vontade de
torturar e matar.
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