“Fênix Negra” é, em vários aspectos, o fim de uma era: É o fim dos X-Men como eles foram conhecidos até aqui no âmbito cinematográfico, ou pelo menos, o fim da reinvenção promovida em 2011 por “X-Men Primeira Classe”. É também, a produção que marca a última realização dos Estúdios Fox em torno desses personagens que até então a produtora possuía –as negociações que levaram a Disney a adquirir todo o espólio intelectual da Fox e terminaram levando os direitos dos mutantes de volta para a Marvel Studios estavam em curso enquanto “X-Men Fênix Negra” se achava em produção.
Como resultado, este trabalho –o trabalho de
estréia, como diretor, do roteirista mais prolífico desta franquia, Simon
Kinberg –já veio prejudicado por uma expectativa bastante negativa, e pelo
demérito de abordar uma mitologia já, digamos, moribunda: Os personagens de
qualquer modo sofreriam um novo reboot
no novo estúdio, e até mesmo Hugh Jackman, o representante maior dessa fase dos
mutantes em seu auge, já havia se despedido de seu personagem, Wolverine, em
“Logan”.
O fato do filme desagradar público e crítica
foi somente a cereja no topo desse bolo pra lá de indigesto que muitos foram
obrigados a engolir. Mas, por trás de todos esses revezes tremendamente
desfavoráveis, a pergunta crucial que fica é: O filme, afinal, é ruim de fato?
Para muitos é um despropósito discutir esses
méritos, visto que quando chegou aos cinemas, “Fênix Negra”, por todas as
razões já citadas, tinha perdido sua relevância. Entretanto, a verdade é que
não... o filme de Simon Kinberg não é tão ruim assim, não!
Também passa longe de igualar a qualidade
pulsante de “Primeira Classe”, o melhor filme de toda franquia, ou mesmo a
maestria sempre austera de “Dias de Um Futuro Esquecido”, que manteve um nível
considerável de qualidade, mas certamente evita muitos dos equívocos
estapafúrdios presentes em “Apocalypse”, por exemplo.
Na pior das hipóteses, o roteiro (também
escrito por Kinberg) trabalha os elementos com absoluta desenvoltura e
familiaridade –tão habituado ele está com o material envolvendo os mutantes que
seu manejo é algo que ele faz com serenidade.
No prólogo, temos uma bem-feita cena de
acidente, onde uma ainda jovem Jean Grey perde os pais durante um uso
inadvertido de seus poderes (cena esta que contradiz algumas circunstâncias nas
quais essa mesma personagem foi introduzida no filme anterior, “Apocalypse”).
Corta para a atualidade –ou os anos 1980 ou 90 na cronologia incerta da
série... –quando Jean (agora interpretada pela gatíssima Sophie Turner, de
“Game Of Thrones”) é uma das alunas da Escola Charles Xavier Para Jovens
Super-Dotados, e integra, ao lado de Mística (Jennifer Lawrence), Ciclope, seu
namorado (Tye Sheridan), Mercúrio (Evan Peters), Noturno (Kodi Smith-McPhee),
Tempestade (Alexandra Ship) e Fera (Nicholas Hoult), o grupo conhecido como
X-Men, uma espécie de equipe composta de mutantes, disponibilizados por Charles
Xavier (James McAvoy), durante as mais variadas emergências a fim de preservar
uma boa imagem do povo mutante perante as pessoas normais.
Numa ocasião surge, portanto, uma emergência
mais complicada que o habitual: Um ônibus espacial sofre uma avaria e fica à
deriva no espaço à mercê do que parece ser uma tempestade de energia solar. À
bordo de seu avançado avião high-tech,
o Pássaro Negro, os X-Men partem para o salvamento, e quando as coisas se
complicam de verdade, os poderes de Jean se revelam fundamentais: Ele consegue
proteger a todos, mas é assolada pela estranha radiação que dela parece se
apoderar.
Jean, no entanto, sobrevive. Mas, ao voltar
para a Terra, uma energia perigosa e imprevisível começa a se apoderar de sua
vontade, potencializando e amplificando seus poderes (a telepatia dela
sobrepuja a do Prof. Xavier) e ressaltando seus sentimentos negativos em
relação à rejeição e ao abandono. Com isso, Jean volta-se contra Xavier e os
X-Men e, no processo, descobre-se poderosa o bastante para superar a todos .
Ao mesmo tempo, criaturas alienígenas descem à
Terra em busca de Jean, ou melhor, em busca do poder que ela absorveu –e que,
em todo universo, parece ser a única criatura capaz de suportá-lo. Liderando
esses seres estranhos e muito pouco esboçados ao longo do filme está Vuk, que
assume com obviedades o papel de vilã da história (e para a qual a normalmente
competente Jessica Chastain entrega uma atuação fria, caricata e apática).
No meio desse entrave, Eric, ou melhor Magneto
(Michael Fassbender), assume uma posição mais ambígua: Embora tenha superado
seu antagonismo com Charles Xavier –cuja relação oscilava em amizade e
rivalidade ao longo dos filmes –ele não concorda de todo com sua postura,
embora também não tenha intenção de aliar-se à Vuk e suas inclinações
genocidas.
Com essa premissa e com seus ricos personagens
justapostos, o roteiro de Kinberg faz o que sempre foi feito em toda franquia;
explora suas dinâmicas humanas, ao mesmo tempo em que nunca perde o foco de
suas habilidades sobrehumanas. E uma de suas notáveis qualidades é não
perder-se em meio à tanta diversidade: Muitas são as cenas, sobretudo, em sua
segunda metade, onde vários personagens com poderes diversos estão em conflito,
e todos são empregados, de modo geral, com intensidade, coerência e coesão.
Pode não parecer nada, mas essa é uma falha muito fácil de se cometer ao se
orquestrar um filme sobre super-humanos com tantos poderes distintos entre si.
E nela, “Fênix Negra” não cai.
Os maiores problemas que afligem o filme de
Simon Kinberg são, na verdade, dois: O primeiro, o fato de Kinberg ter tanta
inexperiência como diretor; Nas mãos dele, cenas que tinham tudo para serem
antológicas, perdem seu potencial por pequenos detalhes irrisórios, e às vezes,
por um tratamento involuntariamente displicente. E, meu Deus, que direção de
atores péssima! –ele consegue desperdiçar talentos incontestes como os de
Lawrence, McAvoy, Fassbender e Chastain!!
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