quarta-feira, 24 de março de 2021

Além da Eternidade


 Alguns anos antes do sucesso maciço de “Ghost-Do Outro Lado da Vida”, o diretor Steven Spielberg teve a ideia de fazer seu próprio romance com elementos sobrenaturais. Isso, claro, acabava sendo consequência do fato de “Além da Eternidade” ser uma refilmagem do clássico “Dois No Céu”, de Victor Fleming, lançado em 1943, que ele descobriu ser uma paixão em comum com o ator Richard Dreyfuss, com quem trabalhou em “Tubarão” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” –daí, ser Dreyfuss o simpático protagonista desta produção.

Transpondo a ação da Segunda Guerra Mundial para os anos 1980 de então, a trama se ambienta entre os pilotos de grandes aviões destinados a apagar incêndios florestais descarregando grandes reservatórios de água sobre as chamas.

Um desses pilotos é Pete Sandich (Dreyfuss), apaixonado, por sua vez, por Dorinda Durston (Holly Hunter), a controladora de voo –e o casal formado por Dreyfuss e Hunter tem tanto carisma, exala tanta química, que eles tornaram a fazer par romântico, desta vez no estranho “Meu Querido Intruso”, do sueco Lasse Halstrom.

Durante uma operação emergencial de contenção de incêndio, Pete se sacrifica para salvar outro piloto, seu grande amigo Al Yackey (John Goodman, fantástico), e seu avião explode.

Pete morre, mas, de alguma forma, sua alma não terminou seus assuntos pendentes na terra –ou, pelo menos, é o que dá a entender uma espécie de anjo que lhe aparece, apropriadamente interpretado por Audrey Hepburn.

O fantasma de Pete retorna para junto de seus entes queridos ainda vivos, contudo, com uma missão: Deve ajudar sua amada Dorinda a superar o luto, e permitir que ela encontre o caminho até um outro amor, que no caso seria o piloto substituto Ted Baker (Brad Johnson, de “Projeto Filadélfia 2“). Pete vem com alguns ‘poderes’: É capaz de sugerir ideais e ações às pessoas vivas ao sussurrar para elas.

Diferente da convicção empolgante que Spielberg sempre ostentou em tantos outros projetos, aqui ele parece ligeiramente acanhado ao falar de amor; esse é claramente um tema que, em sua aura pueril, ele mostra-se desconfortável ao abordar.

Ainda assim, “Além da Eternidade” preserva os aspecto usuais de ser realizado por um grande diretor: Seu ritmo é impecável, fluente e funcional, o elenco é dirigido com primazia e, acima de tudo, suas boas intenções afloram na tela tornando-o, se não emocionante, ao menos emotivo. Contudo, este talvez seja o primeiro caso na carreira de Spielberg no qual o nível tão elevado de suas outras realizações depõe contra a qualidade singela desta daqui.

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