sexta-feira, 26 de março de 2021

Gremlins 2 - A Nova Geração


 Era inevitável que, tendo o sucesso que alcançou, “Gremlins” não tivesse, em algum momento uma continuação. Se tal dado era previsível, ao menos, “Gremlins 2”, lançado em 1990, surpreendeu a muitos revelando-se ainda melhor que o primeiro filme!

Isso porque o diretor Joe Dante espertamente soube exatamente quais eram os elementos e as facetas a serem potencializados, ao mesmo tempo em que preocupou-se, sobretudo, em dar continuidade à trama do filme original –e tal trama tinha como fio condutor (à exemplo de “E.T.” de seu produtor executivo, Steven Spielberg) a relação entre um garoto e uma criatura de poderes fantásticos.

Quando o primeiro “Gremlins” encerrou-se, o ‘mogwai’ chamado Gizmo retorna para junto de seu dono original, um chinês dono de uma loja de antiguidades. É aí que a trama do segundo filme começa, mostrando Gizmo perdendo seu antigo dono (ele morre de velhice) e ficando sem lar (com a loja demolida, a criaturinha vai parar no olho da rua), quando é encontrado por um desengonçado assistente do cientista malvadão (vivido por Christopher Lee).

Essas breves peripécias levam Gizmo à um prédio onde opera, entre outras coisas, um estúdio de TV, e onde também estão a trabalhar Billy (Zach Galligan) e Kate (Phoebe Cates), o jovem casalzinho do filme original. Agora morando juntos num apartamento e tentando a sorte na cidade grande em sub-empregos, os dois se reencontram com Gizmo no frenesi de todas as confusões orquestradas para o segundo filme: Ainda no escritório de Billy, Gizmo tem sua pelugem molhada –e sabemos que os ‘mogwais’ se multiplicam quando lhe é jogado água –e, da trupe de outros bichinhos que surge, vários deles se esbaldam na praça de alimentação do edifício –e também sabemos que, ao comer depois da meia-noite, uma sinistra metamorfose se opera entre as criaturas fofinhas.

E é aí, quando o filme atinge os mesmos percalços do primeiro filme –nos quais os perversos gremlins enfim dão as caras –é que o diretor Joe Dante chega exatamente aonde queria: Na oportunidade plena e totalmente aproveitada de elevar ainda mais as maluquices endiabradas de seus personagens a um nível imprevisto.

O primeiro “Gremlins” já era, em si, uma convulsiva e entusiasmada homenagem ao gênio humorístico e descontrolado de animação Chuck Jones, onde seres absolutamente destituídos de freios morais faziam uma algazzara tão intensa quanto indiscriminada.

Neste segundo filme, Joe Dante tratou de aperfeiçoar o conceito: Instalados agora num edifício que alberga uma estação de TV, um laboratório e inúmeras outras dependências relativas à vida moderna –um consultório de dentista, por exemplo –os gremlins tem então a chance de explorar sua capacidade de virar tudo de pernas para o ar de forma totalmente ampla, diversa e sequenciada: As gags que se seguem a partir de determinado ponto do filme empilham uma insanidade após a outra sem jamais perder o equilíbrio. Há o gremlin que adquire inteligência e, portanto, retórica para defender o ponto de vista dos seus (numa hilária entrevista fornecida à Robert Prosky como o Vovô da “Família Monstro”!); o que adquire asas graças à uma experiência (e permite assim, uma divertida homenagem ao “Batman”!); o que tem seu rosto deformado qual o “Fantasma da Ópera” (sem perder o oportunidade de referenciar o filme, claro!); o que vira raio (!), o que vira vegetal (!!), e até mesmo o que vira uma aranha monstruosa (proporcionando o momento em que o pequeno Gizmo incorpora o heroísmo de “Rambo”!); num certo momento, os gremlins se infiltram nos filmes musicais do estúdio e interferem até mesmo na linguagem do próprio filme: Repare no momento em que ocorre um ‘defeito técnico’ e os gremlins invadem a tela com suas traquinagens!

Em algum ponto, o filme de Joe Dante precisa retornar à sua narrativa e à trama que vinha desenvolvendo para encerrá-la nos moldes convencionais, é quando o filme engrena uma marcha mais descendente, mas até isso acontecer, Joe Dante já cumpriu muito bem o papel que havia se proposto: Continuar o sensacional filme anterior com uma trama ainda mais debochada, ainda mais satírica, demolidora e circunspecta para com o modo de vida norte-americano.

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