Era inevitável que, tendo o sucesso que alcançou, “Gremlins” não tivesse, em algum momento uma continuação. Se tal dado era previsível, ao menos, “Gremlins 2”, lançado em 1990, surpreendeu a muitos revelando-se ainda melhor que o primeiro filme!
Isso porque o diretor Joe Dante espertamente
soube exatamente quais eram os elementos e as facetas a serem potencializados,
ao mesmo tempo em que preocupou-se, sobretudo, em dar continuidade à trama do
filme original –e tal trama tinha como fio condutor (à exemplo de “E.T.” de seu
produtor executivo, Steven Spielberg) a relação entre um garoto e uma criatura
de poderes fantásticos.
Quando o primeiro “Gremlins” encerrou-se, o
‘mogwai’ chamado Gizmo retorna para junto de seu dono original, um chinês dono
de uma loja de antiguidades. É aí que a trama do segundo filme começa,
mostrando Gizmo perdendo seu antigo dono (ele morre de velhice) e ficando sem
lar (com a loja demolida, a criaturinha vai parar no olho da rua), quando é
encontrado por um desengonçado assistente do cientista malvadão (vivido por
Christopher Lee).
Essas breves peripécias levam Gizmo à um prédio
onde opera, entre outras coisas, um estúdio de TV, e onde também estão a
trabalhar Billy (Zach Galligan) e Kate (Phoebe Cates), o jovem casalzinho do
filme original. Agora morando juntos num apartamento e tentando a sorte na
cidade grande em sub-empregos, os dois se reencontram com Gizmo no frenesi de
todas as confusões orquestradas para o segundo filme: Ainda no escritório de
Billy, Gizmo tem sua pelugem molhada –e sabemos que os ‘mogwais’ se multiplicam
quando lhe é jogado água –e, da trupe de outros bichinhos que surge, vários
deles se esbaldam na praça de alimentação do edifício –e também sabemos que, ao
comer depois da meia-noite, uma sinistra metamorfose se opera entre as
criaturas fofinhas.
E é aí, quando o filme atinge os mesmos
percalços do primeiro filme –nos quais os perversos gremlins enfim dão as caras
–é que o diretor Joe Dante chega exatamente aonde queria: Na oportunidade plena
e totalmente aproveitada de elevar ainda mais as maluquices endiabradas de seus
personagens a um nível imprevisto.
O primeiro “Gremlins” já era, em si, uma
convulsiva e entusiasmada homenagem ao gênio humorístico e descontrolado de
animação Chuck Jones, onde seres absolutamente destituídos de freios morais
faziam uma algazzara tão intensa quanto indiscriminada.
Neste segundo filme, Joe Dante tratou de
aperfeiçoar o conceito: Instalados agora num edifício que alberga uma estação
de TV, um laboratório e inúmeras outras dependências relativas à vida moderna
–um consultório de dentista, por exemplo –os gremlins tem então a chance de
explorar sua capacidade de virar tudo de pernas para o ar de forma totalmente
ampla, diversa e sequenciada: As gags que se seguem a partir de determinado
ponto do filme empilham uma insanidade após a outra sem jamais perder o
equilíbrio. Há o gremlin que adquire inteligência e, portanto, retórica para
defender o ponto de vista dos seus (numa hilária entrevista fornecida à Robert
Prosky como o Vovô da “Família Monstro”!); o que adquire asas graças à uma
experiência (e permite assim, uma divertida homenagem ao “Batman”!); o que tem
seu rosto deformado qual o “Fantasma da Ópera” (sem perder o oportunidade de
referenciar o filme, claro!); o que vira raio (!), o que vira vegetal (!!), e
até mesmo o que vira uma aranha monstruosa (proporcionando o momento em que o pequeno
Gizmo incorpora o heroísmo de “Rambo”!); num certo momento, os gremlins se
infiltram nos filmes musicais do estúdio e interferem até mesmo na linguagem do
próprio filme: Repare no momento em que ocorre um ‘defeito técnico’ e os
gremlins invadem a tela com suas traquinagens!
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