sábado, 18 de fevereiro de 2017

O Fantasma da Ópera

Bom diretor Joel Schumacher nunca foi mesmo, mas houve um tempo que ele foi um bocado bem sucedido em enganar os estúdios, parte da crítica e parte do público a esse respeito –mais ou menos o período que abrange a década de 1990, que ele iniciou fazendo dois daqueles que são, até hoje, alguns de seus mais satisfatórios trabalhos (os bons “Linha Mortal” e “Um Dia de Fúria”) e que ele terminou sob uma oscilante consagração proporcionada pelo claudicante “Batman Eternamente”, logo seguido do vazio e burocrático (mas inexplicavelmente, bastante amado por alguns admiradores) “Tempo de Matar” –aquele com Sandra Bullock e que revelou Matthew McConaughey... –para, então lançar o catastrófico “Batman & Robin” (tido como um dos piores filmes de toda a História, e com méritos!), e toda e qualquer consideração que ele tinha como cineasta ir pelos ares.
Desde então, Schumacher passou as décadas seguintes buscando uma espécie de redenção, experimentando com todos os gêneros –mas, principalmente procurando um afastamento do esquema hollywoodiano dos grandes estúdios, através de produções de baixo orçamento e maior liberdade criativa como o policial “Oito Milímetros”, o drama de guerra “Tigerland”, o suspense “Por Um Fio”, o drama “Ninguém É Perfeito”, e por aí vai.
Todos passam longe de ser aquele absurdo mal-filmado que manchou sua carreira (exceto “Em Má Companhia”, de 2002, com Anthony Hopkins e Chris Rock, esse é ruim mesmo!), mas nenhum deles revela-se uma obra capaz de resgatar-lhe qualquer moral como realizador.
Ao longo desses anos em que buscou provar sua competência aos outros (e talvez a si mesmo), veio a ser a esplêndida adaptação da peça musical de Andrew Loyd Webber que provavelmente revelou-se o melhor filme de sua irregular carreira –e ironicamente, um dos poucos casos de superprodução que ele realizou para um grande estúdio.
Entretanto, “O Fantasma da Ópera” pulsa de um ímpeto artístico sobrepujando as tendências comerciais, o quê remete muito àqueles grandes trabalhos feitos à moda antiga.
Cantora do coral da famosa ópera de Budapeste, Christine (a inebriante Emmy Rossum) sonha em tornar-se estrela e diva, e também ser reconhecida por seu talento, no que é auxiliada por um admirador das sombras, o misterioso "fantasma da ópera" (Gerard Butler, anos antes da consagração com “300”, mas já ostentando carisma), a quem ela dá inocentemente a alcunha de "anjo da música".
Mas o "fantasma" (na realidade um homem desfigurado que aprendeu na rejeição do mundo exterior a manipular os bastidores como um ilusionista e fez dos túneis e passagens secretas da ópera, o seu reino) deseja que em troca dessa consagração Christine lhe dê seu amor, o quê aparentemente ela já prometeu a um jovem amor da infância (Patrick Wilson que, apesar dos esforços, não se sai muito bem no embate com Butler).
Musicado, com imensa lealdade em abraçar por completo um gênero que já não é mais moda, imodesto em suas três horas de duração, e plenamente confiante no deslumbre visual que seus altos valores de produção conferem (figurinos, cenários e direção de fotografia são de um primor sem fim) é um filme que pede pela entrega irrestrita do público, tal e qual uma grande história de amor. A grande diferença é que Joel Schumacher desta vez –talvez, fruto das pra lá de mal-sucedidas experiências do passado –não ludibria o expectador com um equívoco: Ele faz em “O Fantasma da Ópera” aquilo que promete, amparado em méritos reais e não em imbecilidades; Emmy Rossum é charmosa de verdade, como também é de verdade a voz modulada e poderosa que ela demonstra nas músicas (ela realmente estudou canto); Gerard Butler é um grande protagonista, viril, dilacerado e ao mesmo tempo cativante e sórdido. São escolhas que transformam o filme em um deleite para além da exuberância óbvia que teria um projeto assim.
Depois disso, Schumacher ficou três anos sem filmar, entregou o mediano terror “Número 23”, e mais alguns outros exemplares sem expressão, atualmente, dedica-se a alguns trabalhos de TV.

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