Imaginava-se que, quando de seu lançamento,
fosse este alardeado filme que viesse a restaurar o estrelato de Keanu Reeves
–a trilogia “Matrix” já contava lá seus quase quinze anos de idade! –porém, o
filme que acabou cumprindo (e muito bem) essa tarefa terminou sendo o bastante
superior “De Volta Ao Jogo”.
Inspirado em um fato real que, no Japão, já
ganhou dimensões lendárias –além de uma infinidade de adaptações, uma delas,
inclusive dirigida pelo celebrado Kenji Mizoguchi –esta produção tem sua trama
acrescida de elementos de fantasia que causam uma impressão de deslocamento e
exotismo, e ilustram bem o trabalho ocasionalmente displicente que resulta de
quando o cinema norte-americano trabalha com um material oriundo de uma cultura
estrangeira: Sem constrangimento, eles literalmente brincam com coisa séria.
Desnecessário dizer, portanto, que as inúmeras
outras versões desta mesma lenda executadas por cineastas japoneses são de
cunho muito mais realista que esta estranha e irregular mistura de aventura de
fantasia e épico samurai.
Durante a época do shogunato, no Japão ainda
feudal, a província de Ako é vitimada pelas maquinações de um jovem lorde,
aliado a uma feiticeira (Rinko Kikuchi, de “Babel” e “Círculo de Fogo”,
belíssima), que provocam a desonra e a morte do chefe feudal, o lorde Asano,
fazendo com que todos os samurais componentes de sua guarda tornem-se ronins, e
sua filha, seja entregue ao vilão, sendo obrigada assim a desposá-lo.
Mas, os ronins, liderados pelo guerreiro Oishi
(Hiroyuki Sanada, de “O Samurai do Entardecer”), aliados a um mestiço, têm
outros planos e desejam não só reaver sua honra, mas também vingar seu mestre.
As intervenções “poéticas” de elementos
fantásticos –que vão desde a bela feiticeira, até pequenos detalhes que alteram
sutilmente trama e incluem criaturas das mais diversas espécies ao estilo
“Senhor dos Anéis” –determinam muito do tom e do ritmo distintos da célebre
lenda japonesa (e sobretudo, de suas austeras versões cinematográficas
japonesas), e até expõem a intenção do diretor Carl Rinsch em brincar com as
variações de gêneros de aventura que tem à disposição (incluindo um cardápio
variado –e excessivo –de efeitos especiais) do que em trabalhar um cinema
realmente sério. Esse argumento só encontra reparo de fato no desfecho, quando
o filme prescinde de um irreal final feliz para se ater à conclusão de sua
fonte original, sem enfeites.
Mesmo assim, roteiro desta
produção norte americana possui visíveis modificações que nem sempre se
harmonizam, especialmente no que diz respeito a forçada presença do mestiço,
personagem de Keanu Reeves, cujos insistentes esforços narrativos para fazê-lo relevante à
trama surgem como as manobras mais mal-sucedidas no que tange à sua realização.
É, porém um entretenimento razoável e beneficia-se das ótimas presenças de
Rinko Kikuchi, de Hiroyuki Sanada e do quase sempre vilanesco Cary-Hiroyuki
Tagawa.
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