sábado, 18 de fevereiro de 2017

47 Ronins

Imaginava-se que, quando de seu lançamento, fosse este alardeado filme que viesse a restaurar o estrelato de Keanu Reeves –a trilogia “Matrix” já contava lá seus quase quinze anos de idade! –porém, o filme que acabou cumprindo (e muito bem) essa tarefa terminou sendo o bastante superior “De Volta Ao Jogo”.
Inspirado em um fato real que, no Japão, já ganhou dimensões lendárias –além de uma infinidade de adaptações, uma delas, inclusive dirigida pelo celebrado Kenji Mizoguchi –esta produção tem sua trama acrescida de elementos de fantasia que causam uma impressão de deslocamento e exotismo, e ilustram bem o trabalho ocasionalmente displicente que resulta de quando o cinema norte-americano trabalha com um material oriundo de uma cultura estrangeira: Sem constrangimento, eles literalmente brincam com coisa séria.
Desnecessário dizer, portanto, que as inúmeras outras versões desta mesma lenda executadas por cineastas japoneses são de cunho muito mais realista que esta estranha e irregular mistura de aventura de fantasia e épico samurai.
Durante a época do shogunato, no Japão ainda feudal, a província de Ako é vitimada pelas maquinações de um jovem lorde, aliado a uma feiticeira (Rinko Kikuchi, de “Babel” e “Círculo de Fogo”, belíssima), que provocam a desonra e a morte do chefe feudal, o lorde Asano, fazendo com que todos os samurais componentes de sua guarda tornem-se ronins, e sua filha, seja entregue ao vilão, sendo obrigada assim a desposá-lo.
Mas, os ronins, liderados pelo guerreiro Oishi (Hiroyuki Sanada, de “O Samurai do Entardecer”), aliados a um mestiço, têm outros planos e desejam não só reaver sua honra, mas também vingar seu mestre.
As intervenções “poéticas” de elementos fantásticos –que vão desde a bela feiticeira, até pequenos detalhes que alteram sutilmente trama e incluem criaturas das mais diversas espécies ao estilo “Senhor dos Anéis” –determinam muito do tom e do ritmo distintos da célebre lenda japonesa (e sobretudo, de suas austeras versões cinematográficas japonesas), e até expõem a intenção do diretor Carl Rinsch em brincar com as variações de gêneros de aventura que tem à disposição (incluindo um cardápio variado –e excessivo –de efeitos especiais) do que em trabalhar um cinema realmente sério. Esse argumento só encontra reparo de fato no desfecho, quando o filme prescinde de um irreal final feliz para se ater à conclusão de sua fonte original, sem enfeites.
Mesmo assim, roteiro desta produção norte americana possui visíveis modificações que nem sempre se harmonizam, especialmente no que diz respeito a forçada presença do mestiço, personagem de Keanu Reeves, cujos insistentes esforços narrativos para fazê-lo relevante à trama surgem como as manobras mais mal-sucedidas no que tange à sua realização. É, porém um entretenimento razoável e beneficia-se das ótimas presenças de Rinko Kikuchi, de Hiroyuki Sanada e do quase sempre vilanesco Cary-Hiroyuki Tagawa.

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