quinta-feira, 26 de maio de 2022

The Poughkeepsie Tapes


 Dentro do estilo found-footage não haveria de faltar uma obra que resvalasse na pecha dos “filmes mais perturbadores de todos os tempos” visto a tendência incontornável que esse formato tem para agregar narrativas de terror.

Como inúmeros de seus pares, “The Poughkeepsie Tapes” é uma obra pontuada por uma sensação de agonia intensa, contundente e ininterrupta –e que haverá de acompanhar o expectador muito tempo depois de sua exibição.

A trama que a obra se encarrega de abordar centraliza um psicopata que aterrorizou a cidadezinha norte-americana de Poughkeepsie nos anos 1990. Ou melhor, testemunhamos suas atrocidades do ponto de vista muito subjetivo das fitas encontradas por uma equipe policial no que teria sido a residência de tal assassino, bem como o palco das atrocidades que não tardam a sser reveladas em detalhes desconcertantes.

O que o diretor e roteirista John Erick Dowdle (que, devido ao trabalho notável desenvolvido neste projeto teve oportunidade de realizar “Quarentena”, refilmagem de outra grande obra em found-footage, o espanhol “Rec, e os filmes de terror “Demônio”, com aval de M. Night Shyamalan, e “Assim Na Terra Como No Inferno”) compõe é tão somente um ‘falso documentário’, como “A Bruxa de Blair” fora antes dele e, como tal, é tão mais exacerbante e terrivelmente convincente quando supomos que tudo o que se passa na tela seja real. E muito do empenho da produção corrobora para isso: Do teor macabro e soturno nos depoimentos (colhidos, em sua maioria, do que aparentemente são agentes policiais na cena dos crimes), do tom mórbido e totalmente sombrio da narrativa, até a natureza doentia dos atos, bem como de seu pavoroso perpetrador e, sobretudo, das cenas viscerais, gráficas e horripilantes que a partir de certo ponto acometem ao filme, tudo em “The Poughkeepsie Tapes” leva o expectador a presumir que tais imagens sejam reais.

Elas são autênticas demais (a atriz Stacy Chbosky, intérprete da desafortunada vítima que ganha maior atenção do psicopata nas cenas, é de uma aflição genuína e contagiante), realistas demais (o filme de Dowdle não economiza em torturas, humilhações, assassinatos e estupros para se fazer desestabilizador) e incômodas demais para soarem apenas ficção.

Mas, felizmente são –talvez, um exercício de recriação um tanto quanto exorbitante e fora dos padrões de uma mente um tanto quanto demasiado fascinada pelo modus operandi de um assassino, mas, ainda sim, apenas isso: Ficção.

Na comparação com outras obras que dividem com ele a infame alcunha de “um dos filmes mais perturbadores de todos os tempos”, “The Poughkeepsie Tapes”, por incrível que talvez possa parecer, pega até leve (!) apelando, durante grande parte de sua narrativa, mais para a sugestão do que para o fato –pelo menos, até tudo degringolar de vez –lembrando, muitas vezes, o tom árido e corrosivo, ainda que sempre tenso e bem planejado, de “O Massacre da Serra Elétrica”, de Tobe Hooper.

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