segunda-feira, 24 de abril de 2017

O Massacre da Serra Elétrica

Divisor de águas no que tange à percepção comercial de muitos elementos grotescos e escatológicos que, em sua época, eram considerados exploitation –e, com efeito, ainda o são –este vigoroso trabalho de Tobe Hooper precisou atravessar algumas décadas até ser absorvido pelo cinemão comercial e ganhar continuações, refilmagens e uma hoje inquestionável aura de cult-movie.
Em sua época, contudo, muitos foram os que quiseram questioná-lo –não sem uma certa razão –apontando o dedo para o objetivo escancaradamente sensacionalista do diretor Hooper em chocar as platéias, embora fique claro, numa revisão, que sua condução evita excessos mais abusivos de sangue e violência física,preferindo uma violência psicológica que soa ainda mais brutal.
Narrado pela voz grave e desconfortavelmente aflitiva de John Larroquette, a trama começa nos anos 1970 e registra um caso que a narração afirma insistentemente ser real: Enquanto viajavam pelas estradas do Texas, um grupo de jovens oferece carona a um jovem perturbado a beira da estrada, que termina incomodando a todos. Exacerbados pela experiência e dispostos a encontrar um local para descansar, eles procuram pelos moradores da região, mas encontram uma família de canibais psicopatas que os perseguirão e matarão um a um. Leatherface (Gunnar Hansen), o membro mais emblemático dessa família ostenta como arma uma terrível e poderosa motosserra.
Este registro icônico, pleno de um sarcasmo cruel, de um massacre promovido por uma família de psicóticos nos campos longínquos do Texas é, na realidade, inspirado no caso real do psicótico Ed Gein, que antes inspirou também “Psicose”, de Hitchcock. Realizado com paixão, ainda que provido de uma perturbadora e deliberada inclinação à controvérsia, este filme independente de baixíssimo orçamento, feito pelo diretor Tobe Hooper (assíduo no gênero de terror) possuía a clara intenção de quebrar convenções e estabelecer novos paradigmas de narrativa, valendo-se de uma crueza e um senso de exacerbado realismo para criar tensão e medo.
Para uma parte do público, ele alcançou ferozmente este objetivo, para a outra parte, ele fez um filme inquietante, torpe e abusivo, cujos dias posteriores eram dedicados à tentativa de esquecer seus momentos intensos.

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