Não obstante sua roupagem de suspense pós-moderno lembrar constantemente as intrigas literárias de Sydney Sheldon, este “No Way Out” –o título nacional genérico, “Sem Saída”, remete não só a este como a diversos outros filmes –trata-se de uma refilmagem de “O Relógio Verde”, de 1948, dirigido por John Farrow e estrelado por Ray Milland, Charles Laughton e Maureen O’ Sullivan, ambientado, por sua vez, na redação de uma revista.
No trabalho realizado por Roger Donaldson (que
à época parecia especializar-se em refilmagens tendo dirigido “Rebelião Em
Alto-Mar”, com Mel Gibson, refilmado do clássico “O Grande Motim”), a nova ambientação
é uma circunstância imposta sem a menor sutileza já no travelling inicial de câmera quando, em meio aos créditos iniciais,
somos levados a uma casa nos arredores de Washington. É lá que um flashback vai regressar aos eventos
tortuosos de sua trama a envolver seu protagonista, o Comandante Tom Farrell,
vivido pelo galã de então, Kevin Costner.
A história que é assim descortinada demora um
pouco a engrenar de fato –o que testa a paciência dos expectadores mais
imediatistas –se diluindo em idas e vindas que soam prosaicas numa primeira
exibição, entretanto, as pistas e indícios ali plantados vão fazer importante
diferença mais tarde.
Uma vez em Washington, as conexões pessoais de Farrell
são poucas: Resumem-se ao seu grande amigo Scott Pritchard (Will Patton, num
personagem manipulador, insidioso e desprezível) e ao homem que ele bajula
acima de qualquer coisa, o Secretário de Defesa norte-americano David Brice (o
grande Gene Hackman). Não tarda à Farrell envolver-se também com a mulher mais
errada possível, Susan Atwell (a sensacional Sean Young, completamente
diferente da sisuda personagem pelo qual mais é lembrada, de “Blade Runner”).
Acaba sendo que Susan, por quem Farrell se
apaixona (e é correspondido!), é a amante de Brice. Após um episódio no qual é
condecorado herói da marinha, Brice tem a ideia de chamar Farrell para
trabalhar em seu gabinete no Pentágono, sem ter a menor ideia que é o próprio
Farrell quem disputa com ele sua amante.
Numa noite de exaltação, quando Susan está
prestes a dar um basta no caso extraconjugal com Brice, ele acidentalmente a
joga da escada, matando-a. Está assim armada a confusão: A única forma de
manter a integridade política de Brice –que alimenta planos ambiciosos dentro
da conjuntura sócio-política americana –é jogar a culpa do assassinato sobre o
outro amante de Susan, e para incrementar ainda mais a busca por sua
identidade, Pritchard ventila nos corredores do Pentágono que ele vem a ser o
Yuri, uma espécie de lenda urbana da contra-espionagem naqueles tempos de
Guerra Fria, supostamente um infiltrado russo que cresceu nos EUA e fornece
informações da Inteligência Norte-Americana de dentro de seu próprio sistema
central.
Como Farrell trabalha diretamente com Brice e
Pritchard, ele coordenada as tensas investigações, às quais, se não lutar
contra o tempo e achar uma saída, haverão de levá-las diretamente até ele
próprio!
Um dos vários sucessos de bilheteria que
abrilhantaram a carreira de Kevin Costner nos anos 1980, “No Way Out” é um
suspense vistoso, diferente, pontuado por bem manejadas e astuciosas
reviravoltas de enredo (a revelação final é de uma ironia particularmente
afiada) e ainda promove uma nada lisonjeira visão dos bastidores do poder em
Washington, mostrados como um microcosmos onde não se pode confiar nem na
própria sombra!
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