domingo, 4 de dezembro de 2022

Sem Saída


 Não obstante sua roupagem de suspense pós-moderno lembrar constantemente as intrigas literárias de Sydney Sheldon, este “No Way Out” –o título nacional genérico, “Sem Saída”, remete não só a este como a diversos outros filmes –trata-se de uma refilmagem de “O Relógio Verde”, de 1948, dirigido por John Farrow e estrelado por Ray Milland, Charles Laughton e Maureen O’ Sullivan, ambientado, por sua vez, na redação de uma revista.

No trabalho realizado por Roger Donaldson (que à época parecia especializar-se em refilmagens tendo dirigido “Rebelião Em Alto-Mar”, com Mel Gibson, refilmado do clássico “O Grande Motim”), a nova ambientação é uma circunstância imposta sem a menor sutileza já no travelling inicial de câmera quando, em meio aos créditos iniciais, somos levados a uma casa nos arredores de Washington. É lá que um flashback vai regressar aos eventos tortuosos de sua trama a envolver seu protagonista, o Comandante Tom Farrell, vivido pelo galã de então, Kevin Costner.

A história que é assim descortinada demora um pouco a engrenar de fato –o que testa a paciência dos expectadores mais imediatistas –se diluindo em idas e vindas que soam prosaicas numa primeira exibição, entretanto, as pistas e indícios ali plantados vão fazer importante diferença mais tarde.

Uma vez em Washington, as conexões pessoais de Farrell são poucas: Resumem-se ao seu grande amigo Scott Pritchard (Will Patton, num personagem manipulador, insidioso e desprezível) e ao homem que ele bajula acima de qualquer coisa, o Secretário de Defesa norte-americano David Brice (o grande Gene Hackman). Não tarda à Farrell envolver-se também com a mulher mais errada possível, Susan Atwell (a sensacional Sean Young, completamente diferente da sisuda personagem pelo qual mais é lembrada, de “Blade Runner”).

Acaba sendo que Susan, por quem Farrell se apaixona (e é correspondido!), é a amante de Brice. Após um episódio no qual é condecorado herói da marinha, Brice tem a ideia de chamar Farrell para trabalhar em seu gabinete no Pentágono, sem ter a menor ideia que é o próprio Farrell quem disputa com ele sua amante.

Numa noite de exaltação, quando Susan está prestes a dar um basta no caso extraconjugal com Brice, ele acidentalmente a joga da escada, matando-a. Está assim armada a confusão: A única forma de manter a integridade política de Brice –que alimenta planos ambiciosos dentro da conjuntura sócio-política americana –é jogar a culpa do assassinato sobre o outro amante de Susan, e para incrementar ainda mais a busca por sua identidade, Pritchard ventila nos corredores do Pentágono que ele vem a ser o Yuri, uma espécie de lenda urbana da contra-espionagem naqueles tempos de Guerra Fria, supostamente um infiltrado russo que cresceu nos EUA e fornece informações da Inteligência Norte-Americana de dentro de seu próprio sistema central.

Como Farrell trabalha diretamente com Brice e Pritchard, ele coordenada as tensas investigações, às quais, se não lutar contra o tempo e achar uma saída, haverão de levá-las diretamente até ele próprio!

Um dos vários sucessos de bilheteria que abrilhantaram a carreira de Kevin Costner nos anos 1980, “No Way Out” é um suspense vistoso, diferente, pontuado por bem manejadas e astuciosas reviravoltas de enredo (a revelação final é de uma ironia particularmente afiada) e ainda promove uma nada lisonjeira visão dos bastidores do poder em Washington, mostrados como um microcosmos onde não se pode confiar nem na própria sombra!

Entre essas intrigas de estado e conspirações de alta cúpula promovidas pelos personagens masculinos, quem se destaca mesmo é a beleza radiante de Sean Young, um tempero inesperadamente intenso de sensualidade (com pelo menos duas cenas bem marcantes, a da limusine e a da entrada no apartamento logo depois) que dá certo sabor à mistura.

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