“Foi disso que nos esquecemos. Das coisas mais simples.”
No início da década de 1990, as experiências
médicas transpostas para a literatura do Dr. Oliver Sacks –que depois também
renderiam o filme “À Primeira Vista” –inspiraram a realização de uma obra bela
e humanista que, a despeito da ocasional falta de paciência de muitos expectadores
para com melodramas, conseguiu, por sua qualidade e transparência, emocionar
público e crítica. O próprio Dr. Sacks –que acompanhou de perto das filmagens
–surge como um dos protagonistas, renomeado Dr. Malcolm Sayer. Um passo na
evolução como cineasta da diretora Penny Marshall (realizadora do divertido
“Quero Ser Grande”), “Tempo de Despertar” cumpre maravilhosamente bem seu papel
–é equilibrado, escrito com minúcia e critério, interpretado com inconteste
sensibilidade e dirigido com perspicácia do início ao fim –e ainda teve a
audácia de, com isso, entregar cinema de qualidade. O resultado disso foi que
ele tornou-se finalista ao Oscar de Melhor Filme na cerimônia de 1991 –o qual
foi vencido por “Dança Com Lobos”.
O princípio de “Tempo de Despertar” mostra o
jovem Leonard Lowe, ainda um pré-adolescente vivendo uma vida normal em meados
da década de 1940, até que sintomas misteriosos como paralisia súbita nos
membros o afastam do convívio com os amigos. Leonard tinha encefalite
letárgica, mais conhecida como Doença do Sono.
O filme salta para 1969, quando o acanhado
neurologista Dr. Sayer (Robin Williams, mais uma vez em um papel sério e
emocionante, um ano depois do excelente “Sociedade dos Poetas Mortos”),
prestando serviço no Hospital de Brainbridge, em Nova York, descobre um grupo
de pacientes vitimados pela encefalite letárgica, entre eles, Leonard, agora
com trinta anos (e interpretado por Robert De Niro). Acometido de um ímpeto
para ajudar o próximo, o Dr. Sayer insiste em novas alternativas para encontrar
a cura para os doentes –apesar da burocrática oposição da diretoria médica –e
testa em Leonard um novo tipo de droga, a L-Dopa, outrora usada em casos de Mal
de Parkinson.
Gradualmente, o remédio apresenta um efeito
milagroso e Leonard desperta para o mundo após uma vida inteira vegetando numa
cama de hospital, lapso durante o qual ele perdeu boa parte da infância e da
juventude.
Com extremo lirismo e delicadeza, o filme de
Marshall explora a relação médico/paciente enquanto contrapõe as curiosas
distinções entre os personagens principais –Dr. Sayer é um homem tímido e
introvertido, enquanto Leonard, na oportunidade de viver plenamente que
redescobre, corre atrás do tempo perdido se apaixonando pela enfermeira Paula
(a bela Penelope Ann Miller) –ao mesmo tempo que mostra, também, o despertar de
novos pacientes da Doença do Sono, o que parece ser um verdadeiro milagre de
conotações dramáticas.
Todavia, em algum momento, a obra de Marshall
justifica as lágrimas copiosas que despertou nas plateias daqueles tempos e
mostra, já em seu último terço, os efeitos do remédio desvanecendo e, com isso,
o retorno implacável e insidioso da Doença do Sono sobre Leonard e os demais
enfermos.
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