Influência-mor para Quetin Tarantino e seu “Os Oito Odiados”, o notável “O Vingador Silencioso”, de Sergio Corbucci, é um dos
mais sensacionais ‘faroestes-spaghettis’ já feitos.
Seu protagonista, o pistoleiro mudo vivido por
Jean-Louis Trintignant, apropriadamente apelidado por seus pares de Silêncio, é
um habilidoso caçador de recompensas, norteado por um código de honra muito
peculiar e específico: Ele lança mão de sua prodigiosa rapidez no gatilho
apenas para se defender; ou seja, somente depois que seu oponente já sacou da
arma. Tal postura garante que Silêncio esteja sempre dentro da Lei em suas
operações, além de disseminar sua fama.
É um apreço característico que Corbucci parece
nutrir por protagonistas que padecem de alguma limitação, como em “Django” (na
cena final, Franco Nero tem de enfrentar os bandidões com as duas mãos
quebradas!); aqui não só seu herói vem desprovido da fala, como também encontra
certos obstáculos em sua própria conduta.
A história –concebida a partir de fatos reais
–se ambienta nas montanhas gélidas e cobertas de neve do estado de Utah, o que
em si já atribui à obra de Corbucci uma originalidade que a destaca em meio ao
seu gênero.
Sabemos quem é Silêncio e como ele teve sua
capacidade de falar brutalmente tirada de si num flashback de sua infância, mas
é essencialmente em seu tumultuado presente que a trama haverá de
concentrar-se; outros caçadores de recompensas, com bem menos escrúpulos,
rondam a vasta região de Snow Hill, defendida com esmero e algum jogo de cintura
pelo Xerife Burnett (Frank Wolff, de “Era Uma Vez No Oeste”). Um deles é Loco
(Klaus Kinski, ameaçador feito uma serpente), cuja última vítima, um morador
negro, deixou uma viúva (a bela Vonetta McGee, de “Blacula” e “Repo Man-A Onda
Punk”) sedenta por vingança.
Ela vai ao vilarejo de Snow Hill na intenção de
vender sua casa para o corrupto (e também vilanesco) banqueiro Policut (Luigi
Pistilli, de “A Cauda do Escorpião”) e, usar do dinheiro, para pagar os
serviços de Silêncio e acabar com Loco. Mas, Silêncio se apaixona por ela,
propondo-se a executar essa tarefa de graça.
Entretanto, Loco é ardiloso: Ele faz o possível
para não tocar na arma, impedindo Silêncio, baseado em seu termos pessoais, de
atirar nele. Com isso, Loco é preso e, logo depois, levado por Burnett para a
cidade mais próxima a fim de aguardar o enforcamento.
Mas, no caminho, Loco trapaceia o xerife e
chama seu bando de companheiros caçadores de recompensas para invadir Snow Hill
e vingar-se de Silêncio.
Após o desfecho surpreendentemente amargo –no
qual o diretor Corbucci deliberadamente contraria as expectativas do público
que ele mesmo plantou –um letreiro informa que os eventos deflagrados em Snow
Hill levaram à forma reprovável com que a lei vigente no Velho Oeste de então
passou a enxergar os caçadores de recompensas e seu ofício propício à torções
da ordem.
Esse precedente verídico
não chega a amenizar o peso trágico que o filme de Corbucci deixa no
expectador, certamente grande responsável por manter este brilhante “O Vingador
Silencioso” gravado na memória do público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário