quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Adeus, Christopher Robin

Num fenômeno mais comum do que pode parecer, dois filmes chegaram aos cinemas, em meados de 2017-18, trazendo o mesmo assunto, uma versão cinematográfica da vida real de Christopher Robin, o garotinho parcialmente retratado no livro “Winnie The Pooh”.
Um deles foi “Christopher Robin-Um Reencontro Inesquecível” produzido pelos Estúdios Disney –que, como o planeta inteiro sabe, adaptaram o famoso livro numa clássica animação de 1977, “As Aventuras do Ursinho Pooh” –e estrelado por Ewan McGregor, o outro foi este “Adeus, Christopher Robin”, dirigido por Simon Curtis (do ótimo “Sete Dias Com Marilyn”).
Focando mais na infância de Christopher Robin –e, portanto, na gênese criativa do livro –o filme toma um caminho bem diferente da outra produção, muito mais fantasiosa.
Ele começa, esbanjando uma demasiada parcimônia que pode desagradar certos públicos, contando a história do pai, A.A. Milne, ou Blue (Domhnall Gleeson), como era chamado, e suas trágicas experiências durante a Primeira Guerra Mundial.
De volta do campo de batalha, Blue não consegue viver harmoniosamente com a esposa Daphn (Margot Robbie) em Londres, insistindo numa mudança para Sussex, no interior, onde desejava escrever um livro anti-belicista. No meio do caminho, os dois resolvem ter uma criança, e assim nasce o pequeno Christopher Robin, logo apelidado de Billy Moon, desde muito novo, refém das abissais neuroses dos pais: De Daph, ele recebia desprezo e pouquíssimas demonstrações de carinho porque ela, fria e recriminadora, se ressentia por ter tido um menino (queria uma menina sob o pretexto de que meninos quando cresciam iam para a guerra morrer!); de Blue, que nunca recuperou-se integralmente do stress pós-traumático adquirido na guerra, ele teve de acostumar-se à indiferença de alguém embrutecido e transtornado.
O pequeno Billy Moon (vivido pelo garoto Will Tilston) tem assim somente o afeto da babá Olive (Kelly MacDonald, de “Onde Os Fracos Não Têm Vez” e “Trainspotting”) para se refugiar.
Entretanto, quando Billy tinha por volta de seus sete anos, as circunstâncias contribuíram para que tanto Daphn (que num surto de egocentrismo resolveu, de última hora, ir para Londres comprar papéis de parede!) quanto Olive (que teve de ir cuidar da mãe adoentada) se ausentassem de casa, deixando Blue e Billy sozinhos um com o outro pela primeira vez.
Iniciado com alguns atritos –comuns entre um adulto sem o menor jeito com crianças e um garotinho criado pela babá com zelo metódico –o relacionamento entre pai e filho encontra um ponto de equilíbrio na imaginação (Blue era, afinal de contas, escritor), e com isso, os dois descobrem um mundo imaginado em comum nos bosques da propriedade da família, povoado pelos personagens que nada mais eram do que os brinquedos que Billy já tinha.
Primeiramente, isso rende um poema de autoria de Blue, “Vespers”, que logo é publicado com largo sucesso; mas, nada os prepararia para o que viria a seguir: Convocando seu grande amigo Ernest Shepard (Stephen Campbell Moore) como ilustrador, Blue cria todo um livro baseado do conceito do mundo lúdico imaginado por Billy –e ainda o coloca no livro com seu nome verdadeiro, Christopher Robin –criando a obra “Winnie The Pooh” que, de pronto, experimenta um sucesso esmagador; fenômeno mostrado no filme de maneira um tanto abrupta e rasteira.
A narrativa concentra-se mesmo no depois: O sucesso acaba cobrando um alto preço de Billy. Tornado famoso pelo livro no qual foi incluído, o menino se torna uma espécie de estrela com quem todos queriam tirar fotos. Os pais, embriagados pela adoração pública, submetem o garoto à massacrantes rotinas de entrevistas, ensaios fotográficos e matérias jornalísticas, negligenciando-lhe o direito à infância.
Ao ser matriculado num colégio interno, o bullying sofrido por Billy tem, assim, um tema todo particular.
Já mais velho (e interpretado por Alex Lawther, de “O Jogo da Imitação”), Billy toma a decisão de alistar-se no exército para lutar na Segunda Guerra Mundial –e a pressuposição de sua morte em combate parece finalmente fazer seus pais valorizarem o filho que tinham.
Nem sempre perfeito na construção de sua dramaturgia, o filme de Simon Curtis, se encontra momentos nos quais consegue atingir o expectador com sua emoção deve esse bom resultado ao ótimo elenco, onde certamente se sobressaem –em níveis oscilantes de eficiência –o trio principal, Donhnall Gleeson, Margot Robbie e Kelly MacDonald.

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