É incrível como histórias reais das mais
fascinantes surgem com o tempo, quando muitas delas deixam de ter o sigilo que
antes era mantido pelos mais diferentes motivos: Caso do surpreendente
"Argo" cuja epopéia veio a público a pouco mais de uma década para
transformar-se então no Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 2012.
"O Jogo da Imitação" é, por inúmeras
e variadas razões, ainda mais surpreendente.
Conta a história de Alan Turing, uma espécie de
gênio que (como muitas vez o cinema insiste em retratar) revela-se anti-social,
difícil, arrogante até, incapaz de compreender o quê, para ele, parece ser a
lentidão de raciocínio de seus pares (e na atuação ponderada e sempre metódica
de Benedict Cumberbath, essas características são todas verdadeiras,
acompanhadas de indissociáveis reflexos humanos como o medo, a vergonha e a
vulnerabilidade). Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing é chamado para
compor uma equipe ultra-secreta a fim de decifrar, para o governo britânico, as
mensagens da máquina Enigma, que serve de comunicação para os nazistas, e cuja
elucidação será fundamental para o desfecho da guerra.
Os resultados dele e de sua equipe avançam de
forma frustrante, até que Turing chega a uma conclusão que, para ele,
mostrava-se inevitável: Seria impossível, para o cérebro humano, calcular as
milhares de combinações cifradas que poderiam levar à tradução das mensagens;
somente uma máquina, é capaz de interpretar as variações criptográficas
infindáveis de outra máquina.
Contra a opinião de muitos de seus colegas,
Turing inicia a construção de um maquinário, cuja montagem e características de
processamento de informação remetem à complexidade do cérebro humano, mas com
um alcance técnico e logístico que ser humano algum jamais seria capaz - surge
então os primeiros esboços do que viriam a ser os computadores.
O fato de Alan Turing ser, até então, pouco
conhecido se dá devido ao seu triste fim. Após a guerra, com a missão de
decifrar a Enigma concluída, ele voltou a uma rotina convencional, porém, um
assalto ocorrido em sua casa fez com que a polícia levantasse suspeitas sobre
ele, e começasse investigações acerca dos temores daqueles novos tempos: Não
mais o inimigos nazistas, mas desta vez, espiões soviéticos infiltrados.
Acabaram descobrindo, porém, que Turing era
homossexual, o quê levou-o a um julgamento por obscenidade (comum na Inglaterra,
naquela época) e a uma sentença judicial que obrigou-o a uma castração química,
cujos efeitos colaterais ele tentou combater até, por fim, suicidar-se.
Filmado com abrangente elegância, o filme,
dirigido pelo sueco Mortem Tyldum, é um apanhado inteligente, objetivo e
fundamental de uma história desconhecido a Segunda Grande Guerra que merecia um
lugar de destaque no cinema.
E o modo com que é
encenada na tela é, em todos os níveis, de uma superlativa fascinação. As
guerras, afinal, são compostas por feitos extraordinários de pessoas desiguais,
como Alan Turing, cuja visão e intelecto vêem a determinar os rumos do mundo
como o conhecemos.
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