sábado, 21 de novembro de 2015

Que Horas Ela Volta?

Gratificante é a palavra que mais me ocorre ao pensar neste belo trabalho do nosso cinema. É claro, que o cinema nacional não se equipara ao brilhantismo e à sofisticação do cinema feito na Argentina, por exemplo, mas é ótimo conferir uma obra que prova a excelência à que podemos almejar.
No início, "Que Horas Ela Volta?" tem todos aqueles maneirismos incômodos do cinema independente e marginal de autor, com aqueles takes abstratos, onde ângulos de câmera parecem posicionados para captar o mais absoluto nada (e a prova dessa identificação foi a aclamada -e não menos merecida -premiação no Festival de Sudance, berço dos filmes independentes), logo, contudo, a história e suas personagens e o bom trabalho da diretora Anna Muylaert começam a nos cativar.
Val é empregada doméstica de uma família de classe alta paulista a mais de uma década. Nesse período, ela praticamente criou o filho da patroa, Flavinho, enquanto chora as saudades da filha, Jessica, que deixou  no nordeste, mas para quem sempre envia dinheiro.
Um belo dia, Jessica (que pretende prestar vestibular) vai visitá-la, e acaba, por alguns dias, ficando na casa dos patrões da mãe (já que ela mora no próprio serviço), até que possam resolver a situação e encontrar lugar para morar.
É exatamente a partir daí que o filme elabora interessantes e pertinentes situações a respeito do estado das coisas, das divisões sociais de classe, e dos comportamentos humanos, mascarados muitas vezes por protocolos que impedem (ou ajudam) as pessoas a esconder aquilo que são.
Jessica, por exemplo, não tem um pingo da subserviência da mãe e, feito um furacão, acaba abalando muito do status quo que parecia petrificado naquela residência: Ela convence os patrões da própria mãe a lhe ceder o quarto de hóspedes, e essa é só a primeira coisa que faz ao chegar.
Não funcionaria se o seu elenco não fosse magnífico: Regina Casé está sensacional, e faz jus a todo o falatório em torno de sua interpretação (inclusive considerada para muitos prêmios), como Val, ela consegue ser luminosa, encantadora e genuíuna, jamais caindo no sentimentalista ou no melodramático. Igualmente surpreendente é a jovem e pouco conhecida Camila Márdila, talvez a verdadeira força do elenco, apesar da poderosa presença de Regina, e que surpresa poder ver, irreconhecível, o jovem Michel Joelsas (o garotinho do ótimo "O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias") agora quase um moço.
No fim, "Que Horas Ela Volta?" deixa uma sensação muito agradável, de um filme que cumpriu plenamente seu dever e seu objetivo: Oferecer uma admirável discussão sobre as desigualdades (e percepções) sociais, emocionar o público com uma história bela e bem contada, e entregar uma obra de cinema, caprichada em todo e qualquer aspecto.
Não há porque pedir mais do que isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário