Documentaristas prestigiados –sua área de atuação mais constante eram trabalhos para a National Geographic Society –o casal David e Carol Hughes, para sua estréia em obras de ficção, lançaram mão de uma série de elementos extraídos do gênero que souberam tão bem realizar. “Missing Link” não tem –como aliás nem poderia ter –sequências capturadas na exatidão natural de seu acontecimento, afinal, se passa na Pré-História, mas a intenção por trás da execução é logo estabelecer uma suspensão de descrença no expectador para que esse detalhe seja deixado de lado. “Missing Link” é, pois, um filme que evoca as características de um documentário, ainda que toda sua encenação seja ilusória –salvo tomadas adicionais da vida selvagem africana agregadas à narrativa (filmadas, estas, na Namíbia).
O personagem-título (personificado pelo ator
Peter Elliot, debaixo de quilos transformadores de maquiagem, a lembrar o
elenco do primeiro terço, “A Aurora do Homem”, de “2001-Uma Odisséia No Espaço”) é membro de uma comunidade pré-histórica que viveu aproximadamente um
milhão de anos A.C. Já no princípio do filme, essa comunidade é dizimada pelos
mais evoluídos e mais preparados homo sapiens.
Fugindo de posse de uma machadinha dos inimigos –artefato cuja utilidade ele demora
a compreender –esse homem-macaco faz uma longa peregrinação em busca de outros
semelhantes para acolhê-lo, descobrindo, no processo, que ele próprio pode
tratar-se de uma espécie em extinção. Sua busca o leva da planície ao mar,
através da floresta e do deserto.
Com esta obra bastante notável e singular
–hoje, infelizmente, bastante desconhecida do público –os diretores Hughes
conseguiram unir as facetas artisticamente pertinentes tanto do documentário,
quanto do bom filme de ficção: Seu aspecto de filme de aventura evidencia o
ritmo movimentado, não se abstém de momentos bem-humorados, nem de sequências
tensas de suspense, e em diversos momentos chega até a emocionar; já, como
documentário, ele registra uma teorizada e ricamente caracterizada circunstância
vista como uma lacuna na evolução pelos especialistas –o ‘elo perdido’, em si,
tem todas as características físicas, visuais e gestuais de um macaco,
entretanto, anda ereto e demonstra prodigiosa capacidade de aprender, logo, de
evoluir –mas, seu objetivo mais salutar é uma crítica carregada de simbolismo
ao preconceito racial e à intolerância, elementos que surgem como inerentes à
barbárie humana, dos quais nem sempre nós, pessoas presumidamente civilizadas,
somos capazes de nos desvencilhar.
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