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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Uma Voz Para Milhões


 Ainda em meados dos anos 1980, o estrelato do tenor Luciano Pavarotti era tamanho que, em certo momento, algum produtor de cinema teve a ideia de aproveitar seu inconteste carisma e bancar a sua estréia cinematográfica. Quis o destino que tais produtores viessem a ser Peter Feterman e Terry Carr e, desse modo, sob a batuta deles, acaba sendo basicamente essa a ideia que alimenta todo o enredo de “Uma Voz Para Milhões”, ou no original, “Yes, Giorgio”, título com o qual, à propósito, ele foi lançado no Brasil na longínqua Era do VHS.

O Giorgio do título é, obviamente, o personagem vivido por Pavarotti que, numa manobra sensata dos realizadores, pouco foge da persona que ele era na vida real –o que facilita muito as coisas para o filme como um todo, sobretudo porque, como fica bem evidente em pouco tempo de cena, Pavarotti estava muito longe de ser um bom ator.

Em meio a uma turnê pelos EUA, o tenor italiano e bon-vivant Giorgio Fini perde a voz, sem mais nem menos, enquanto está numa estadia em Boston. Eis que, a fim de solucionar esse problema, ele é instruído a procurar a laringologista Dra. Pamela Taylor (Kathryn Harrold, de “Jogo Bruto” e “O Preço da Sedução”), e então, a incontornável manobra do romance maniqueísta cinematográfico acontece: Os dois se apaixonam!

O roteiro de Norman Steinberg até ensaia a velha e batida dinâmica do dilema entre a carreira e o coração, na qual o protagonista se vê dividido em seus sentimentos, pressionado a melhorar e regressar às atribulações da própria fama ou ficar ao lado de seu grande amor em detrimento da adoração do público, mas ele o faz com tanta galhardia (neutralizando qualquer chance de seriedade a fim de não exigir demais do nada satisfatório traquejo dramático de Pavarotti) que os personagens e o simplório arco narrativo de sua comédia romântica em nada contribuem para o filme. Já na época do seu lançamento, os críticos foram unânimes: Não fossem os momentos musicais inevitáveis nos quais Pavarotti solta o gogó, “Yes, Giorgio” seria um desperdício completo!

Um dos últimos trabalhos do diretor Franklin J. Schaffner (que, em outros tempos, levou o Oscar por “Patton-Rebelde Ou Herói” e assinou o clássico “Planeta dos Macacos”), “Yes, Giorgio” não escapa de absolutamente nenhum dos clichês românticos de filmes usuais hollywoodianos. Embora a canção “If We Were In Love”, de John Williams, Alan Bergman e Marilyn Bergman, tenha sido indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro (perdendo ambos para “Up Where We Belong”, de “A Força do Destino”), o filme teve três indicações ao Framboesa de Ouro 1983: Pior Ator para Luciano Pavarotti, Pior Novo Astro (de novo Pavarotti...) e Pior Roteiro, mas foi incapaz de tirar esses ‘prêmios’ das mãos do filme “Inchon” (uma bizarrice estrelada por Laurence Olivier!).

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Patton - Rebelde Ou Herói?

No cinema, a Segunda Guerra Mundial sempre costumou ser enaltecida com produções que tratavam seus soldados com heroísmo e bravura, já à Guerra do Vietnam recebeu desde sempre um tratamento mais amargo, obscuro e revisionista.
Em 1970, com a Guerra do Vietnam ainda em curso, essa percepção –de que a guerra não oferece nada senão a brutalização do homem –influenciou profundamente o filme “Patton-Rebelde Ou Herói?” que biografava uma controversa figura entre os militares da Segunda Guerra Mundial, o implacável General George Patton (interpretado com exuberância quase assustadora por George C. Scott).
Na cena que abre o filme, vemos Patton perfilado diante da bandeira norte-americana que ocupa todo o palco no qual ele discursará –um discurso para as tropas que também é dirigido ao próprio expectador: E com isso somos imediatamente apresentados às facetas mais alarmantes do protagonista. Uma eloqüência que parece remeter às convicções fascistas; um caráter intransigente e megalomaníaco ao qual logo virou moda relacionar ao militarismo.
Na Tunísia e em diversos pontos da Europa, Patton atuou como comandante do III Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, onde ganhou os anais da História revelando-se um incansável e estrategista senhor da guerra na orquestração maciça das batalhas de blindados.
Patton enxergava a guerra com um ufanismo febril e destemperado, o quê lhe faltava em tato sobrava em disposição violenta –não raro, o filme o flagra com as atitudes não de um soldado civilizado do século XX, mas de um guerreiro intempestivo e irascível de tempos antigos. Não é à toa: Patton acreditava em reencarnação, afirmando que havia lutado ao lado de Aníbal nas Guerras Púnicas e de Napoleão Bonaparte e seus exércitos na Europa Central.
Com efeito, o filme reflete essa impressão nos desdobramentos factuais da narrativa, nas referências anacrônicas e climáticas da trilha sonora e na justaposição entre as batalhas vibrantes vencidas com admirável estratégia e o comportamento maníaco e monstruoso para com seus subordinados –famosa se tornou a cena em que Patton quase estoura os miolos de um jovem soldado ferido com medo de voltar à guerra!
Numa época em que o cinema ainda não tinha ganhado produções fundamentais como “Apocalypse Now”, “O FrancoAtirador”, “Platoon” e “Nascido Para Matar”, “Patton” preencheu magnificamente bem a lacuna de ‘filme de guerra feito para chocar e esclarecer’, postura que agraciou com sete prêmios Oscar –incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor (para Franklin J. Schaffer, de “O Planeta dos Macacos”), Melhor Ator (este recusado por George C. Scott!) e Melhor Roteiro Adaptado (para um Francis Ford Coppola anterior à consagração por “O Poderoso Chefão”).