No cinema, a Segunda Guerra Mundial sempre
costumou ser enaltecida com produções que tratavam seus soldados com heroísmo e
bravura, já à Guerra do Vietnam recebeu desde sempre um tratamento mais amargo,
obscuro e revisionista.
Em 1970, com a Guerra do Vietnam ainda em
curso, essa percepção –de que a guerra não oferece nada senão a brutalização do
homem –influenciou profundamente o filme “Patton-Rebelde Ou Herói?” que
biografava uma controversa figura entre os militares da Segunda Guerra Mundial,
o implacável General George Patton (interpretado com exuberância quase
assustadora por George C. Scott).
Na cena que abre o filme, vemos Patton
perfilado diante da bandeira norte-americana que ocupa todo o palco no qual ele
discursará –um discurso para as tropas que também é dirigido ao próprio
expectador: E com isso somos imediatamente apresentados às facetas mais
alarmantes do protagonista. Uma eloqüência que parece remeter às convicções
fascistas; um caráter intransigente e megalomaníaco ao qual logo virou moda
relacionar ao militarismo.
Na Tunísia e em diversos pontos da Europa,
Patton atuou como comandante do III Exército dos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial, onde ganhou os anais da História revelando-se um incansável e
estrategista senhor da guerra na orquestração maciça das batalhas de blindados.
Patton enxergava a guerra com um ufanismo
febril e destemperado, o quê lhe faltava em tato sobrava em disposição violenta
–não raro, o filme o flagra com as atitudes não de um soldado civilizado do século
XX, mas de um guerreiro intempestivo e irascível de tempos antigos. Não é à
toa: Patton acreditava em reencarnação, afirmando que havia lutado ao lado de
Aníbal nas Guerras Púnicas e de Napoleão Bonaparte e seus exércitos na Europa
Central.
Com efeito, o filme reflete essa impressão nos
desdobramentos factuais da narrativa, nas referências anacrônicas e climáticas
da trilha sonora e na justaposição entre as batalhas vibrantes vencidas com
admirável estratégia e o comportamento maníaco e monstruoso para com seus
subordinados –famosa se tornou a cena em que Patton quase estoura os miolos de
um jovem soldado ferido com medo de voltar à guerra!
Numa época em que o cinema
ainda não tinha ganhado produções fundamentais como “Apocalypse Now”, “O FrancoAtirador”, “Platoon” e “Nascido Para Matar”, “Patton” preencheu magnificamente
bem a lacuna de ‘filme de guerra feito para chocar e esclarecer’, postura que
agraciou com sete prêmios Oscar –incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor (para
Franklin J. Schaffer, de “O Planeta dos Macacos”), Melhor Ator (este recusado
por George C. Scott!) e Melhor Roteiro Adaptado (para um Francis Ford Coppola
anterior à consagração por “O Poderoso Chefão”).
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