Indicado ao Oscar 1991 de Melhor Roteiro
Original (tendo perdido para “Thelma & Louise”) e também premiado com o
Urso de Ouro no Festival de Berlim daquele ano, “Grand Canyon” é o típico
exemplar do ‘esemble drama’ –uma trama ramificada entre os diversos personagens
de um elenco numeroso.
O seu diretor, Lawrence Kasdan, que já havia
trabalhado muito bem com esse conceito em “O Reencontro”, molda seu filme com a
artificialidade de alguém que, num ponto culminante da carreira, atingiu uma
fase de reconhecimento na qual seu único esforço era permanecer relevante. Como
o tema de “Grand Canyon” é –mais em termos existenciais do que práticos –o
preconceito racial nos EUA (e, nesse sentido, o Grand Canyon é uma metáfora de
inúmeras aplicações), a crítica procurou não repudiar o filme que transita
tranqüilo entre seus interesses e suas intenções, jamais sendo genial, mas
nunca dando razões, nos seus cento e trinta e quatro minutos de duração, para o
expectador arrepender-se de tê-lo assistido.
O ponto de partida de “Grand Canyon” se dá com
o personagem que mais próximo chega de ser seu protagonista de fato: O advogado
Mack vivido pelo simpaticíssimo Kevin Kline (um dos mais assíduos atores do
diretor Kasdan).
Mack vê seu carro enguiçado num gueto de
gangues barra-pesada e, quando está prestes a encrencar-se de fato com um
desses grupos é acudido pelo motorista de guincho Simon (o ótimo Danny Glover)
que, por ser também negro, encontra um diálogo franco e apaziguador com os
instáveis maus elementos.
A partir desse encontro casual entre Mack e
Simon –que, desde então, se esforçam na construção de uma amizade que se
sobreponha ao abismo social –a narrativa do filme se desenrola ao sintetizar as
crises deles e de outros personagens a eles relacionados.
Do lado de Mack, há o caso mal resolvido com a
linda secretária Dee (Mary-Louise Parker, que tem uma breve cena de nudez!); a
reviravolta experimentada pelo seu amigo, o produtor hollywoodiano Davis (Steve
Martin, num inusitado papel sério) que, de esteta da violência em suas obras se
torna reflexivo e idealista após ser vítima de um atentado –para então,
regressar ao cinismo de sempre após ter passado os estágios do trauma; o dilema
de Claire (a magnífica Mary McDonnell, de “Dança Com Lobos”), e esposa de Mack,
indecisa entre adotar ou não uma criança que foi abandonada ao lado de sua
casa.
Do lado de Simon, existe o envolvimento com
Jane (Alfre Woodard) proporcionado pelo contato com o próprio Mack, além de
inúmeros flagrantes da urgência e do dia-a-dia brutal na selva urbana.
É um belo trabalho na
orquestração de dramas pessoais e na condução de uma narrativa envolvente que
resvala somente na excessiva obviedade de sua proposta –mastigada, explicada e
reiterada até demais ao longo do filme –e, sobretudo, no redundante fato de que
Kasdan dramatiza crises urbanas infinitamente mais amenas do que aquelas que o
público conhece (e que ainda viria a conhecer) muito melhor que seus
personagens confortáveis e bem-postos de Primeiro Mundo.
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