sexta-feira, 4 de maio de 2018

Grand Canyon - Ansiedade de Uma Geração

Indicado ao Oscar 1991 de Melhor Roteiro Original (tendo perdido para “Thelma & Louise”) e também premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim daquele ano, “Grand Canyon” é o típico exemplar do ‘esemble drama’ –uma trama ramificada entre os diversos personagens de um elenco numeroso.
O seu diretor, Lawrence Kasdan, que já havia trabalhado muito bem com esse conceito em “O Reencontro”, molda seu filme com a artificialidade de alguém que, num ponto culminante da carreira, atingiu uma fase de reconhecimento na qual seu único esforço era permanecer relevante. Como o tema de “Grand Canyon” é –mais em termos existenciais do que práticos –o preconceito racial nos EUA (e, nesse sentido, o Grand Canyon é uma metáfora de inúmeras aplicações), a crítica procurou não repudiar o filme que transita tranqüilo entre seus interesses e suas intenções, jamais sendo genial, mas nunca dando razões, nos seus cento e trinta e quatro minutos de duração, para o expectador arrepender-se de tê-lo assistido.
O ponto de partida de “Grand Canyon” se dá com o personagem que mais próximo chega de ser seu protagonista de fato: O advogado Mack vivido pelo simpaticíssimo Kevin Kline (um dos mais assíduos atores do diretor Kasdan).
Mack vê seu carro enguiçado num gueto de gangues barra-pesada e, quando está prestes a encrencar-se de fato com um desses grupos é acudido pelo motorista de guincho Simon (o ótimo Danny Glover) que, por ser também negro, encontra um diálogo franco e apaziguador com os instáveis maus elementos.
A partir desse encontro casual entre Mack e Simon –que, desde então, se esforçam na construção de uma amizade que se sobreponha ao abismo social –a narrativa do filme se desenrola ao sintetizar as crises deles e de outros personagens a eles relacionados.
Do lado de Mack, há o caso mal resolvido com a linda secretária Dee (Mary-Louise Parker, que tem uma breve cena de nudez!); a reviravolta experimentada pelo seu amigo, o produtor hollywoodiano Davis (Steve Martin, num inusitado papel sério) que, de esteta da violência em suas obras se torna reflexivo e idealista após ser vítima de um atentado –para então, regressar ao cinismo de sempre após ter passado os estágios do trauma; o dilema de Claire (a magnífica Mary McDonnell, de “Dança Com Lobos”), e esposa de Mack, indecisa entre adotar ou não uma criança que foi abandonada ao lado de sua casa.
Do lado de Simon, existe o envolvimento com Jane (Alfre Woodard) proporcionado pelo contato com o próprio Mack, além de inúmeros flagrantes da urgência e do dia-a-dia brutal na selva urbana.
É um belo trabalho na orquestração de dramas pessoais e na condução de uma narrativa envolvente que resvala somente na excessiva obviedade de sua proposta –mastigada, explicada e reiterada até demais ao longo do filme –e, sobretudo, no redundante fato de que Kasdan dramatiza crises urbanas infinitamente mais amenas do que aquelas que o público conhece (e que ainda viria a conhecer) muito melhor que seus personagens confortáveis e bem-postos de Primeiro Mundo.

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