Não é por acaso que este filme desperta, nas
plateias atuais, um certo sentimento de ‘déjà vu’: O filme “Annapolis”, de
2006, dirigido por Justin Lin e estrelado por James Franco, reaproveita muitos
elementos de sua premissa básica na maior cara-de-pau!
Contudo, há que se tirar o chapéu para o belo
trabalho de narrativa e dramaturgia executado pelo diretor Taylor Hackford
aqui. Desde jovem, o protagonista Zack Mayo (Richard Gere) teve de conviver com
a negligência paterna (seu pai, um marinheiro vivido por Robert Loggia, o
arrastou ainda criança por todas as bases navais e os prostítbulos por onde
passou) e a ausência materna (sua mãe suicidou-se muito cedo) –background do
protagonista exposto já nos breves cinco minutos que antecipam os créditos
iniciais e o título.
Consciente do próprio desamparo, Mayo
refugia-se no militarismo: Em Washington, ele entra para um rigoroso curso
preparatório de oficiais da marinha norte-americana.
O curso de 13 semanas é dos mais árduos e
penosos, como já fica evidente na apresentação de seu comandante, o
impraticável e por vezes intolerável Sargento Foley (Louis Gosset Jr. vencedor
do Oscar 1983 de Melhor Ator Coadjuvante num personagem que a princípio lembra
o de R. Lee Ermey em “Nascido Para Matar”).
Nunca sai do foco de seu diretor as facetas
dramáticas da trajetória de Mayo ao longo do treinamento –onde ele passa a
nutrir uma forte amizade com Worley, o filho de um oficial interpretado por
David Keith –no entanto, Taylor Hackford sempre se mostrou mais fascinado pelos
dramas comuns do proletariado e menos pelos percalços atribulados da elite.
Talvez seja por isso que, a partir de
determinado ponto, “A Força do Destino” ombreia o protagonismo de Zakc Mayo com
o da garota que ele ama: A operária de classe baixa Paula interpretada (e muito
bem!) por Debra Winger.
Filha bastarda de um caso que sua mãe (Grace
Zabriskie, de “Império dos Sonhos”) teve também com um cadete do curso de
oficiais, Paula, ao lado da amiga Lynette (a bela Lisa Blount), mora na cidade
litorânea próxima ao centro de treinamentos e vive no que parece ser um ciclo
vicioso; todo o ano, novos recrutas veem e vão, numa rota em direção a uma vida
estável e bem remunerada de oficial, e para uma moça de família pobre, a chance
de fisgar um marido com vida estabelecida surge nos flertes com os recrutas nos
bares locais.
Mas, é uma via de mão dupla: Como as moças
podem saber quando estão apenas sendo usadas pelos rapazes? Como ter certeza de
que eles não as descartarão assim que se formarem, mesmo estando até grávidas
(como ocorreu com sua mãe)?
Para Lynette, que passa a se envolver com
Worley, a resposta é simples: Ela deve tentar a sorte e engravidar do
namoradinho da vez antes que ele a abandone.
Para Paula, não é tão simples: Ela se recusa a
usar de tal desonestidade com Mayo, mesmo que em sua inconstância, ele não forneça
maiores certezas sobre seu futuro juntos. Paula é, portanto, a mocinha nobre e
virtuosa que identifica, na relação com o rapaz galante (ainda que torturado)
um sentimento genuíno no qual deseja colocar suas esperanças.
Quando encontra esse mote –que evidentemente
lhe desperta imenso interesse –Taylor Hackford ergue seu filme ao redor dele,
alternando o romance entre Mayo e Paula com o treinamento dele, no qual, a
medida que as fases derradeiras do curso se aproximam, as indisposições com o
exigente Sgt. Foley se multiplicam. Sobretudo, porque Foley descobre uma
espécie de ‘mercado negro’ montado por Mayo para lucrar algum dinheiro entre os
recrutas; e a reação de Foley a esse delito é enérgica –e é curioso notar que
Gosset Jr. levou o Oscar por um personagem atípico que não parece demonstrar
emoções humanas. Só parece: Basta reparar na maneira notável com que o ator faz
transparecer pequenos indícios de humanidade em meio ao turbilhão de
loquacidade militar que ele declama em cima dos recrutas.
Uma mistura imprevista, mas
eficaz, de romantismo e dramaticidade rasgada (a balada “Up Where We Belong”
ganhou o Oscar de Melhor Canção), o filme de Hackford obteve êxito considerável
entre o público jovem dos anos 1980, alçando ao estrelato os então jovens
Richard Gere e Debra Winger e criando uma inadvertida espécie de fórmula para o
sucesso, afinal, é todo calcado em sua estrutura narrativa o blockbuster “Top Gun”, com Tom Cruise, lançado quatro anos depois!
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