domingo, 20 de dezembro de 2015

O Jardim de Cimento

Blockbusters de uma maneira geral me aborrecem. É claro que existem inúmeras exceções, mas nada se comparação àquela sensação de descoberta, quando aparece um filme pequeno obscuro, absolutamente desconhecido do grande público, e que revela-se, senão uma obra-prima, um trabalho notável. 
É mais ou menos nessa categoria que se encaixa “O Jardim de Cimento”, uma obra muito interessante. Delicada, inclusive no modo com que toca no controverso tema do incesto. 
É uma narrativa idílica, quase lúdica, onde as crianças de uma família criam um microcosmos para elas mesmas após a morte do pai, e em seguida, da mãe. 
O casal de irmãos mais velhos passam a cuidar dos irmãos pequenos, e desse ímpeto inocente em desempenhar um papel (o de pai e mãe), o roteiro estuda os novos sentimentos que afloram, bem como novos conceitos que parecem se refazer à parte do restante do mundo: Um exemplo é a vontade natural que surge no irmão mais novo, em vestir-se de menina, o que é visto com naturalidade pelos outros. 
A narrativa, contudo, à sua maneira discretamente incisiva, busca desenvolver mesmo a relação entre o casal mais velho. Curioso notar que o menino (Andrew Robertson) e a menina têm características andróginas. Ela, com corte de cabelo bem curto, é interpretada por uma ainda novinha Charlotte Gainsburgh (filha de Serge Gainsburgh e da atriz Jane Birkin), cuja audácia que já demonstra aqui, seria exercida com muito mais freqüência na vida adulta, em suas constantes colaborações com Lars Von Trier. 
O filme, à propósito, é dirigido pelo tio dela, Andrew Birkin, o que já confere às impressões acerca do filme, uma aura toda inusitada: Apesar de todos os controversos revezes, este é um trabalho de família!
A consumação do incesto entre os dois irmãos é mostrada de forma corajosa, um exemplo de engajo notável com a história que busca contar, embora nunca seja ofensivo nem exacerbado.
Não é o mais fenomenal dos estudos de ousadias comportamentais, nem uma adaptação brilhante do livro de Ian McEwan, mas fica ao fim a memória de uma curiosa realização.

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