sábado, 30 de abril de 2016

Atlantic City

Dentre todos os autores revelados na novelle vague francesa, Louis Malle talvez fosse aquele que tivesse a natureza mais transgressiva. Não no sentido de ousar na linguagem narrativa como seu colega Jean Luc Goddard, mas no sentido temático mesmo: Em seus filmes, Malle acrescentava um viés lúdico e até mesmo romântico a assuntos espinhosos como o incesto (“O Sopro do Coração”), o suicídio (“Trinta Anos Esta Noite”), a delatação (“Adeus, Meninos”) e até mesmo a prostituição e a pedofilia (“Menina Bonita” este já realizado nos EUA). A despeito, contudo, do culto que se formou em torno desse primeiro trabalho em solo americano, o melhor filme de Malle é mesmo o magnífico “Atlantic City”.
Com seu talento contundente para levar um olhar revelador as dramas humanos marginais, ele acompanha a rotina de um velho bookmaker (o magistral Burt Lancaster), um veterano da vida caótica de Las Vegas, fascinado e apaixonado platonicamente pela jovem vizinha (Suzan Sarandon, deliciosa) uma das milhares de funcionárias dos cassinos da cidade que, como todos almeja uma vida melhor.
A chegada da irmã dela, e de seu jovem marido, rapaz envolvido com atividades ilícitas, irá criar a situação que levará os dois protagonistas a se encontrar finalmente, ainda que diante de uma séria ameaça.
Malle leva esse olhar, esse senso de observação que ele herdou do prestigiado movimento de cinema francês para esse trama de crime e morte tão norte-americana, e empresta a ela um charme europeu que jamais um diretor de Hollywood seria capaz de trazer.
De quebra, ainda coroa seu filme com atuações de um primor indissolúvel do saudoso veterano Burt Lancaster e de uma ainda jovem Suzan Sarandon.
Um encontro feliz de talentos inquestionáveis.

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