sexta-feira, 6 de maio de 2016

A Noite dos Desesperados

O próprio Sydney Pollack parecia ser sempre o primeiro a desdenhar de seu imenso talento como cineasta. Em seus últimos anos de vida, ele preferiu a comodidade das participações como ator em produções de Hollywood (como a comédia “O Melhor Amigo da Noiva”), do que as atribulações normalmente exigidas pelo cargo de diretor.
Está certo que a qualidade e a produtividade de Pollack como autor já havia diminuído muito, mas ele fez muita falta. Um dos nomes surgidos em algum momento do movimento da Nova Hollywood, Pollack era versátil e eclético, trabalhando com uma profusão de gêneros distintos ao mesmo tempo que mantinha um estilo bastante próprio em face do padrão dos estúdios (cujo declínio criativo, é sempre bom lembrar, começa naqueles tempos de 1960 e 1970).
Ele fez filmes memoráveis, como o maravilhoso “Tootsie”; o audacioso thriller “Os Três Dias do Condor”; o notável “Operação Yakuza”; o agridoce “Nosso Amor de Ontem”; obras carregadas de revisionismo, o faroeste “Mais Forte Que A Vingança”, e até ganhou um Oscar (em 1985, pela não tão excelente “Entre Dois Amores”). Mas, entre seus melhores trabalhos, não há quem duvide que esteja “A Noite dos Desesperados”.
O olhar intrínseco e pragmático de Sydney Pollack (muito apropriado àquela Nova Hollywood) nos leva para a Califórnia de meados da década de 1930, à refletir todo o desconforto e a sensação de pessimismo perene que os EUA experimentavam após a Grande Depressão.
Esse é o cenário onde inicia-se uma maratona cruel: Vários casais –todos desesperados pelo prêmio em dinheiro –participam de uma disputa de dança transcorrida e acompanhada por dias a fio, na qual o casal vencedor será o último a restar em pé.
Para tentar a sorte, cruzam-se os personagens de Jane Fonda (bela, áspera e magnífica) e Michael Sarrazin (cuja atuação cheia de ingenuidade reflete algumas enganosas expectativas de quem vai ver o filme), no que inicialmente parece ser um encontro que pode desembocar em romance.
Ledo engano: Não é para isso que Sydney Pollack capricha tanto em sua narrativa; uma a uma, as concepções e convenções do público para com os personagens e a história vão sendo subvertidas, até que fique bem claro o drama humano, poderoso, amargo, e por que não, magistral, que Pollack almejava conceber.

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