segunda-feira, 11 de julho de 2016

Mulheres Apaixonadas

O segundo filme da carreira de Ken Russell foi lançado em 1969, dando à ele sua única indicação ao Oscar de Melhor Diretor. Acabou ganhando o Oscar de Melhor Atriz para Glenda Jackson.
Curioso é que o mesmo Ken Russell realizou, décadas depois, um prequel (ou seja, uma continuação que narra eventos ocorridos anteriormente ao filme original) adaptando, mais uma vez D.H. Lawrence: Trata-se de “O Despertar de Uma Mulher Apaixonada” ou “The Rainbow” (este filme, por sinal, já foi resenhado aqui!). Notem o intuito picareta do título nacional em relacionar os dois filmes...
“The Rainbow”, no caso, centrava-se na personagem de Ursula (interpretada pela jovem Sammi Davis) que aqui, curiosamente, ganha menos protagonismo do que Gudrun, sua outra irmã (curiosamente, Glenda Jackson, a intérprete oscarizada de Gudrun neste filme interpreta a mãe das duas irmãs em “The Rainbow”).
Enfim, a câmera de Russell, menos virtuosa e atrevida do que em trabalhos que vieram depois, acompanha os percalços afetivos das duas irmãs, Gudrun (Jackson, realmente ótima) e Ursula (Jennie Linden, luminosa) que se relacionam, aos trancos e barrancos, com dois rapazes, Gerald (Oliver Reed) e Ruppert (Alan Bates) na Inglaterra em meados da década de 1920.
Acontece que Russell (e certamente a verve do autor Lawrence já proveniente da obra literária que o diretor trata de potencializar) tem interesse em focar nos aspectos díspares que surgem dessas relações a despeito das convenções sociais que pesavam (não raro, com opressão esmagadora) sobre todos, em especial, a tensão homoerótica que pulsa entre os dois amigos, Geral e Ruppert: Muito famosa é a cena em que os dois atores encenam uma espécie de luta romana, ambos completamente nus, diante das chamas de uma lareira.
Como sempre foi inerente à sua postura, Russell desfralda de maneira incisiva o véu de pudor de seus personagens à medida que conduz a trama com notável noção de subtexto.

Muitos afirmam ser este daqui o seu melhor filme. Não concordo com isso, nem sob um decreto, mas mesmo assim, ainda representa o fascinante lampejo inicial de um gênio que daria outras grandes e pulsantes contribuições ao cinema, na forma das mais variadas e desconcertantes experiências sensoriais.

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