sábado, 17 de setembro de 2016

Ave, César!

O cinema da Velha Hollywood já estava presente há algum tempo nos trabalhos dos Irmãos Coen: Prova disso é o enigmático “Barton Fink-Delírios de Hollywood” e o divertidíssimo “E Aí, Meu Irmão Cadê Você?” (cujo título foi tirado do filme dentro do filme da trama do clássico “Contrastes Humanos”).
Nunca porém eles haviam emergido de forma tão abrangente nesse retrato como o fazem aqui, e sua especulação a respeito daquela Hollywood, hoje já folclórica, vem todo permeada por sua ironia típica, não raro cruel, e seu senso de observação intrínseco de uma genial simplicidade.
As várias e absurdas tramas que passeiam por todo o filme têm como elo de ligação o produtor Fred Mannix (Josh Brolin, colaborador freqüente dos Coen em trabalhos como o antológico “Onde Os Fracos Não Têm Vez” e o excelente “Bravura Indômita”, mas tão arraigado no papel que você nem lembrará disso). O trabalho dele, além de coordenar os aspectos da produção dos simultâneos filmes realizados pela Capital Pictures Studios, é também conter os egos –e as encrencas quase surreais –que surgem da relação nem sempre profissional entre os astros fúteis e mimados e os diretores e vários técnicos envolvidos nos filmes.
Há o astro de faroestes (Alden Ehrenreich, hilariante) que, após consolidar sua carreira nos papéis exclusivamente físicos de cowboy, migra para os filmes mais dramáticos, com resultados catastróficos, para desespero de seu afeminado diretor (Ralph Fiennes); a atriz especializada em filmes aquáticos (Scarlett Johansson, linda como sempre em papel claramente inspirado em Esther Williams), que precisa providenciar um rápido casamento arranjado a fim de atenuar o possível escândalo por uma gravidez inesperada; e –dentre todos o quê toma mais tempo da narrativa –o astro de um proeminente épico bíblico (George Clooney, interpretando o que deve ser uma caricatura de Richard Burton), que acaba seqüestrado por um grupo de lesados intelectuais comunistas, na verdade, todos roteiristas amargurados com o sistema hollywoodiano de então, que não lhes dava o devido valor.
Todas essas questões, tramas paralelas e personagens ganham uma estranha abordagem na qual os Coen enfatizam o humor nonsense na mesma proporção que o drama humano embutidos nas circunstâncias.
O resultado é de uma sofisticação que beira a inacessibilidade, um problema que, se pararmos para avaliar, sempre ronda as obras desiguais desses talentosos realizadores.

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