sábado, 17 de setembro de 2016

Profissão: Ladrão

Feito de todos os elementos que compõem um grande filme (um roteiro melindroso e afiado, um elenco notável e uma direção incisiva e pontual) este trabalho de Michael Mann é um vigoroso exemplo do magnífico cinema policial que ele sempre concebeu.
É um mundo soturno, ainda que provido de lógica sórdida, esse no qual ele introduz seu protagonista, Frank (James Caan, sensacional), imerso num profissionalismo por meio do qual ele é capaz de sobreviver na dura e ilícita condição de seu ofício de ladrão especializado em roubo de diamantes –um protagonista muito típico dos filmes de Mann.
Enquanto busca juntar fragmentos do que pode vir a ser uma vida normal –ele começa a sair com Jessie (Tuesday Weld), com quem logo almeja uma vida a dois; seu mentor, Okla (Willie Nelson), para quem Frank é um filho, deve ser libertado da prisão; e a possibilidade de ser pai, mesmo que por adoção, pode vir a tornar-se real –ele é assediado por um gangster (Robert Proski) para que não só realize um grande roubo de jóias, mas também se torne um de seus asseclas dali para frente.
Relutante, Frank concorda imaginando ser esse seu último trabalho, antes de mudar em definitivo de vida. Mas, seu contratante não pensa da mesma forma.
Há um instante em “Profissão: Ladrão” que dialoga diretamente com “Inimigos Públicos”, que Mann realizou vinte e oito anos depois (e que, pensando bem, também remete muito de seu “Fogo Contra Fogo”): O personagem de James Caan põe as cartas na mesa a respeito de seu modo de vida escuso para a personagem de Tuesday Weld, e que em face desse perigo,muito da embromação inerente aos relacionamentos convencionais não poderá existir na relação deles, se ela vier a se concretizar.
Ele também deixa claras suas reais intenções por ela.
É um registro parecido com o de John Dillinger (Johnny Depp), em “Inimigos...”, e da atmosfera de urgência que rodeia seu romance com Billie Franchette (Marion Cotillard). Isso não é, de maneira alguma, repetição –é a constatação de uma visão depurada da dicotomia entre as relações humanas e o mundo que as cerca, mantida, aperfeiçoada e cultivada ao longo de inúmeros filmes. E tão sólida e convicta é ela, que manifesta-se como o mais significativo estilo reduzido à sua essência: Como se pode comprovar nos trabalhos já mencionados, assim como também em “O Informante”, “Miami Vice” e no recente “Hacker”.
Dentre todos esses filmes, “Profissão: Ladrão” se destaca por ser relativamente um notável precursor de todos eles, e uma notável prova de que Mann manteve-se fiel à essa visão, além de ser um exercício contundente e convincente na questão de que, ao enredar-se –assim como a todos os aspectos de sua vida –de todas essas regras e códigos, como forma de preservar certa cautela e segurança, Frank está, no final das contas, coberto de razão.

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