Feito de todos os elementos que compõem um
grande filme (um roteiro melindroso e afiado, um elenco notável e uma direção
incisiva e pontual) este trabalho de Michael Mann é um vigoroso exemplo do
magnífico cinema policial que ele sempre concebeu.
É um mundo soturno, ainda que provido de lógica
sórdida, esse no qual ele introduz seu protagonista, Frank (James Caan,
sensacional), imerso num profissionalismo por meio do qual ele é capaz de
sobreviver na dura e ilícita condição de seu ofício de ladrão especializado em
roubo de diamantes –um protagonista muito típico dos filmes de Mann.
Enquanto busca juntar fragmentos do que pode
vir a ser uma vida normal –ele começa a sair com Jessie (Tuesday Weld), com
quem logo almeja uma vida a dois; seu mentor, Okla (Willie Nelson), para quem
Frank é um filho, deve ser libertado da prisão; e a possibilidade de ser pai,
mesmo que por adoção, pode vir a tornar-se real –ele é assediado por um
gangster (Robert Proski) para que não só realize um grande roubo de jóias, mas
também se torne um de seus asseclas dali para frente.
Relutante, Frank concorda imaginando ser esse
seu último trabalho, antes de mudar em definitivo de vida. Mas, seu contratante
não pensa da mesma forma.
Há um instante em “Profissão: Ladrão” que
dialoga diretamente com “Inimigos Públicos”, que Mann realizou vinte e oito
anos depois (e que, pensando bem, também remete muito de seu “Fogo Contra
Fogo”): O personagem de James Caan põe as cartas na mesa a respeito de seu modo
de vida escuso para a personagem de Tuesday Weld, e que em face desse
perigo,muito da embromação inerente aos relacionamentos convencionais não
poderá existir na relação deles, se ela vier a se concretizar.
Ele também deixa claras suas reais intenções
por ela.
É um registro parecido com o de John Dillinger
(Johnny Depp), em “Inimigos...”, e da atmosfera de urgência que rodeia seu
romance com Billie Franchette (Marion Cotillard). Isso não é, de maneira
alguma, repetição –é a constatação de uma visão depurada da dicotomia entre as relações
humanas e o mundo que as cerca, mantida, aperfeiçoada e cultivada ao longo de
inúmeros filmes. E tão sólida e convicta é ela, que manifesta-se como o mais
significativo estilo reduzido à sua essência: Como se pode comprovar nos
trabalhos já mencionados, assim como também em “O Informante”, “Miami Vice” e
no recente “Hacker”.
Dentre todos esses filmes,
“Profissão: Ladrão” se destaca por ser relativamente um notável precursor de
todos eles, e uma notável prova de que Mann manteve-se fiel à essa visão, além
de ser um exercício contundente e convincente na questão de que, ao enredar-se
–assim como a todos os aspectos de sua vida –de todas essas regras e códigos,
como forma de preservar certa cautela e segurança, Frank está, no final das
contas, coberto de razão.
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