terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Três Homens Em Conflito

Em meio a Guerra de Secessão, três pistoleiros errantes e absolutamente a margem da lei, tentam passar a perna um no outro para conseguir para si uma fortuna em moedas de ouro escondida numa caixa e enterrada num cemitério cuja localização eles sabem apenas em parte. Assim pode ser resumido este que é mais um exemplo do estilo magnífico com o qual o mestre Sergio Leone molda cenas de duelo e tensão.
Fã assumido de Akira Kurosawa e de John Ford (como o próprio Kurosawa também o era), sua visão do faroeste é uma reformulação do que os americanos fizeram com o gênero por décadas tornando-o clássico.
E dessa visão, todo um novo sub-gênero nasceu, prolífico, pulsante e vibrante durante todas as décadas de 1960 e 70: O faroeste-spaghetti.
Leone cria universos de tempo dilatado e faces calejadas e suadas onde os closes nos olhos levam a revelações por vezes significativas nos desdobramentos das cenas, de tiroteio inclusive, e de quem seus personagens são: No caso, o Bom (ou Loirinho!) é um pistoleiro sem nome, relativamente confiável e bom no gatilho, cuja figura encontra em Clint Eastwood uma personificação que lhe beira a perfeição, seu eventual parceiro é o Feio (ou Tuco) larápio enganador e fugitivo, vivido por Eli Wallach, cuja a gorda recompensa, a dupla muitas vezes retira, de cidade em cidade, fazendo-se passar por perseguidor e cativo, para em seguida fugir com o dinheiro. Por sua vez, o Mau (ou Olhos de Anjo) é um pistoleiro mais inescrupuloso, age como assassino profissional na fronteira, executando indivíduos aleatoriamente para quem lhe pagar mais, e de vez em quando, disfarçando-se de Oficial Confederado. E é interpretado com toda a fleuma e presença pelo calejado especialista em bandidos durões, Lee Van Cleef. Em meio aos contratempos da Guerra Civil Norte-Americana, essas três figuras enganam-se e aliam-se sucessivamente para tentar botar a mão na tal caixa cheia de dinheiro enterrada no tal cemitério. Um plot que poderia perfeitamente soar banal, mas que é tratado por Leone como aquilo que realmente é: Um pretexto, elaborado com equilíbrio entre o humor e a seriedade, para que por meio dele sejam executadas cenas brilhantemente pensadas e cinematograficamente soberbas, assimetricamente calibradas em sua linguagem visual e climatizadas com singularidade pela inesquecível trilha sonora de Ennio Morricone.
Este filme é um exemplo do trabalho de um mestre ao exercer sua arte.

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