terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O Guerreiro Silencioso

A fim de elucidar o propósito da trama nebulosa deste trabalho sensacional que deixa muitos expectadores desconcertados e sem saber ao certo o quê assistiram (e esse propósito existe!), podemos, em primeiro lugar, nos ater ao seu título original, “Vallhala Rising”, e seu real significado: A Ascensão de Vallhala –local para onde vão, na mitologia nórdica, as almas mortas daqueles guerreiros que se provaram valorosos em vida.
É necessário também esmiuçarmos sua estrutura desigual e episódica.
1ª Parte (A Ira): Na Suécia medieval, guerreiro mudo e enigmático (o fabuloso Madds Mikelsen) é usado por velho camponês para ganhar dinheiro em violentos torneios de luta.
2ª Parte (Guerreiro Silencioso): Após a aparente morte de seu senhor, o mudo foge através das vastas e solitárias campinas gélidas, levando consigo um menino.
3ª Parte (Homens de Deus): Os dois encontram guerreiros cristãos a caminho de Jerusalém, e partem em um barco. Ao longo da jornada, contudo, muitos perecem diante de uma peste desconhecida, e gradativamente enfrentam um tormento existencial que lhes cobra um alto preço.
4ª Parte (Terra Santa): Eles chegam a um lugar verdejante –supostamente o novo continente, as Américas –onde se descobrem perdidos.
5ª Parte (Inferno): Algo espreita ameaçadoramente o grupo cujos integrantes morrem –e somem –um a um.
6ª Parte (Sacrifício): Junto dos outros, o guerreiro calado descobre afinal onde está, e qual deve ser seu derradeiro destino.
O diretor Nicholas Winding Refn (de “Drive”) mescla dois elementos distintos (a peregrinação dos europeus em direção ao continente americano e a expiação dos pecados no pós-vida) para conceber uma experiência visual sem precedentes em termos poéticos e reflexivos. Ele não oferece atenuante algum nesta jornada meta-física que sua narrativa conduz, valendo-se de propriedades essencialmente artísticas para sua concepção. A justaposição dos intérpretes em cena parece sempre confrontá-los com o ambiente hostil em sua volta, o quê confere um comentário poderoso acerca das penitências existenciais arcadas pelo ser humano.
Denso, lento e violento, este trabalho carregado de estilo e simbolismo do diretor Winding Refn é um filme difícil para platéias comuns, mas espetacular em sua coerência formal e sua honestidade.

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