terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A Princesa e O Plebeu

Trabalho magnífico do hercúleo artesão William Wyller –que nos deu o clássico “Ben-Hur” –esta inebriante comédia romântica é uma das mais felizes reuniões de talentos que o cinema já testemunhou: Uma Audrey Hepburn primorosa (e revelada neste filme!) dá, aqui, a personificação perfeita, vibrante e cativante da encantadora realeza; fazendo par com ela, o sempre competente Gregory Peck, dá sua contribuição à excelência da produção impondo sua presença de respeito à toda prova, ainda que isso não fique no caminho do descontraído e contagiante bom humor do filme; além deles, há o roteiro, assinado pelo inteligente e politizado Dalton Trumbo, que de fato torna este filme genial, começando a história como um conto de fadas inverso.
A princesa Ann (Hepburn, numa atuação inigualável, plenamente merecedora do Oscar de Melhor Atriz que conquistou), em uma breve visita a Roma, se ressente por sua condição de princesa; os deveres e imposições protocolares a impedem de aproveitar os prazeres mais corriqueiros da cidade. Para tanto, ela deixa o palácio em que está hospedada a fim de dar um passeio, mas termina cruzando o caminho de Joe Bradley (Peck, carismático, viril, e no tom absolutamente certo), um correspondente norte-americano na Itália.
Astuto e sagaz, Bradley sabe quem ela é, mas a princesa pensa ser capaz de convencê-lo de que se trata de uma simples moça. Mantendo uma farsa mútua, os dois então resolvem fazer um tour juntos por Roma, levando o fotógrafo Irving Radovich à tiracolo (Eddie Albert, outra presença fantástica) –e vem bem a calhar, para Bradley, que ele tenha uma câmera fotográfica sempre por perto para registrar as peripécias da princesa!
Uma sucessão prazerosa e enternecedora de cenas sensacionais se segue: Bradley e a princesa andando num monociclo; a mão que desaparece na bocarra de uma fonte; a visita à lanchonete que termina em bagunça; tudo conduzido com uma leveza que não exclui a excelência cinematográfica à toda prova.
Tal e qual é inevitável à tramas dessa natureza, Bradley e a princesa percebem surgir entre si uma paixão que invariavelmente não poderá ser duradoura –mas, até lá, a condução dinâmica de Wyller e seu terno olhar para com a inescapável química do par central transformará a platéia em torcida para esse amor.
É em sua seqüência final, contudo, que o genial roteiro de Trumbo dá o grande xeque-mate no expectador ao subverter a expectativa por um final feliz (ou, ao menos, um final em que presume-se que o casal central terminará junto) entregando uma cena onde ele ao mesmo tempo coloca brilhantemente todas as repercussões realistas inerentes a uma situação assim, amarra magnificamente todas as pontas soltas da narrativa e ainda mantém o filme leve e agradável o suficiente para que consigamos terminá-lo com uma sensação agridoce, acompanhada da certeza de termos visto uma das melhores (senão a melhor) comédia romântica do cinema.

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