terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A Garota No Trem

É muito legal ver a iniciativa do diretor Tate Taylor em manter-se variado ao assumir esta adaptação do best-seller, “A Garota No Trem”, de Paula Hawkins, ainda que o resultado não iguale seu até então melhor filme, “Histórias Cruzadas”.
É por sinal, possível enxergar similaridades entre os dois projetos, especialmente, na atenção e no carinho que o diretor dedica às personagens femininas.
E também no primor com que escolhe as atrizes para interpretá-las.
Falta, contudo, certa experiência para Tate Taylor saber enfatizar as grandes interpretações que surgem em cena –talvez, por se arriscar num gênero como o suspense, no qual a abordagem do drama não é o objetivo em si, mas a moldura para transposição da trama para o público, ele demonstrou menos serenidade aqui do que em outros de seus trabalhos.
De qualquer forma, há algo de irrepreensível na atuação de Emily Blunt, que interpreta Rachel, uma alcoólatra que passa de trem diariamente em frente á duas residências vizinhas. Numa, mora a mulher que vive a vida que antes era sua –ela casou-se com o ex-marido de Rachel e agora está na casa que era dela. Na outra, mora a jovem que vive a vida idealizada que Rachel gostaria de viver –ela e seu jovem e vigoroso marido estão visivelmente apaixonados.
Mas, nem tudo é como a mente fragilizada de Rachel pensa: a jovem, de nome Megan, interpretada pela linda Haley Bennett (de “Sete Homens e Um Destino”) com olhos de ressaca tal e qual a intrigante Capitu de Machado de Assis, trabalha como babá na casa de Anna (Rebecca Fergunson, de “Missão Impossível-Nação Secreta”), a atual esposa do ex de Rachel.
A narrativa alterna os pontos de vista dessas três protagonistas –não raro enfatizando o antagonismo entre elas –e alternando também a cronologia a fim de revelar gradativamente a trama sórdida que involuntariamente as une.
Até que Megan desaparece, e os indícios logo começam a apontar para uma tragédia.
Rachel que, em sua atroz instabilidade psicológica surge como uma das possíveis suspeitas do crime, acredita que viu algo revelador da janela do trem em suas sucessivas passagens pela frente da casa.
Esmiuçar tais lembranças escorregadias que insistem em se dissolver em sua mente para elucidar esse mistério passa então a ser uma espécie de objetivo na vida de Rachel, quando aparentemente ela não tinha mais nenhum. Entretanto, não apenas esses segredos haverão de esclarecer o que aconteceu com Megan, como também farão Rachel e Anna descobrirem a real verdade acerca do próprio passado.
Livro e filme, portanto, não economizam na dramaticidade que permeia a vidas dessas três protagonistas. Se o livro vale-se de inúmeros lances tipicamente literários para tornar a trama envolvente, o filme –na falta de um meio para recorrer às mesmas manobras –busca por artifícios mais cinematográficos e termina tropeçando em alguns deles.
É mencionado no making of que “A Garota No Trem” é “Janela Indiscreta” em movimento, e a referência ao mestre Hitchcock até poderia engrandecer ainda mais o trabalho de Tate Taylor, mas ao contrário do mestre, Taylor deixa de lado a sugestão implícita no promissor ponto de vista expressado no primeiro (e melhor) terço da obra para sustentar-se, a partir da metade, no folhetim básico, o quê torna seu filme redundante.

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