Fatalista, melancólico e amargo, “Bilbao” é um
desvio no estilo do diretor catalão Bigas Luna, sempre voltado para as
peripécias sexuais de seus personagens, registradas em geral em tom cômico de
galhofa e descompromisso.
Ainda que o sexo (ou melhor, a obsessão sexual)
continue tendo um foco central de seu trabalho. Bilbao é uma garota de programa
por quem o alienado e estranho protagonista nutre uma inexplicada fissura;
solitário (exceto por uma mulher mais velha com quem vive, e que ignora
completamente), arredio, tímido, introspectivo e retraído, ele apresenta todas
as características para um comportamento psicótico que Bigas Luna tratará de
enfatizar na segunda metade da breve trama, quando ele resolve tomar Bilbao
para si e incluí-la em sua doentia coleção erótica, a despeito de qualquer
consenso dela.
Ele a droga –após um longo período estudando
suas trajetórias diárias e noturnas –com uma espécie de anestésico que irá
administrar para mantê-la sempre desacordada e, portanto, objetificada e suscetível
ao seu desejo.
O drama vislumbrado por Luna é que ali não há
relacionamento algum –e, por conseguinte, não há uma satisfação: A Bilbao que
ele ama (ou que, ao menos, lhe desperta interesse) não é aquele vegetal inerte
e desacordado com o qual ele estará durante a parte final.
Como seu conterrâneo, Pedro Almodóvar, Bigas
Luna subverte expectativas de comportamento buscando um olhar terno sobre seus
personagens, que nem sempre consegue (e parece nem fazer questão de) desviar os
detalhes macabros e francamente perversos que cercam a situação.
Em sua filmografia o diretor Bigas Luna sempre
contemplou o amor como gatilho narrativo para as mais pecaminosas expressões do
ser humano.
Ele leva à vaidade mais arrogante e reprovável
em “Ovos de Ouro”; à luxúria e seus extremos em “As Idades de Lulu”; ao crime e
à inconseqüência em “Jamon Jamon”; à mentira e ao adultério em “O Som do Mar”,
e outros mais.
“Bilbao” parece ser a sua representação
pessoal da cobiça, e da característica corrosiva que isso tem de destruir
justamente aquilo que amamos.
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