quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Bilbao

Fatalista, melancólico e amargo, “Bilbao” é um desvio no estilo do diretor catalão Bigas Luna, sempre voltado para as peripécias sexuais de seus personagens, registradas em geral em tom cômico de galhofa e descompromisso.
Ainda que o sexo (ou melhor, a obsessão sexual) continue tendo um foco central de seu trabalho. Bilbao é uma garota de programa por quem o alienado e estranho protagonista nutre uma inexplicada fissura; solitário (exceto por uma mulher mais velha com quem vive, e que ignora completamente), arredio, tímido, introspectivo e retraído, ele apresenta todas as características para um comportamento psicótico que Bigas Luna tratará de enfatizar na segunda metade da breve trama, quando ele resolve tomar Bilbao para si e incluí-la em sua doentia coleção erótica, a despeito de qualquer consenso dela.
Ele a droga –após um longo período estudando suas trajetórias diárias e noturnas –com uma espécie de anestésico que irá administrar para mantê-la sempre desacordada e, portanto, objetificada e suscetível ao seu desejo.
O drama vislumbrado por Luna é que ali não há relacionamento algum –e, por conseguinte, não há uma satisfação: A Bilbao que ele ama (ou que, ao menos, lhe desperta interesse) não é aquele vegetal inerte e desacordado com o qual ele estará durante a parte final.
Como seu conterrâneo, Pedro Almodóvar, Bigas Luna subverte expectativas de comportamento buscando um olhar terno sobre seus personagens, que nem sempre consegue (e parece nem fazer questão de) desviar os detalhes macabros e francamente perversos que cercam a situação.
Em sua filmografia o diretor Bigas Luna sempre contemplou o amor como gatilho narrativo para as mais pecaminosas expressões do ser humano.
Ele leva à vaidade mais arrogante e reprovável em “Ovos de Ouro”; à luxúria e seus extremos em “As Idades de Lulu”; ao crime e à inconseqüência em “Jamon Jamon”; à mentira e ao adultério em “O Som do Mar”, e outros mais.
“Bilbao” parece ser a sua representação pessoal da cobiça, e da característica corrosiva que isso tem de destruir justamente aquilo que amamos.

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