O cinema da Era de Ouro de Hollywood exerce um
encanto fenomenal nos Irmãos Coen. Para tanto, eles criaram alguns de seus mais
notáveis trabalhos debruçando-se sobre os valores, as circunstâncias e a
mentalidade daquela época e como esses fatores foram, em grande medida,
decisivos na concepção de obras fundamentais à sétima arte.
É um pouco desse fascínio que eles parecem
resgatar nesta maravilhosa adaptação do livro de Charles Portis, e que, em sua
recriação cheia de talento e personalidade, não faz nada feio se comparado com
o clássico de 1970, estrelado por John Wayne –o único filme, diga-se, que
chegou a dar, à essa lenda do cinema, a chance que concorrer e ganhar o Oscar
de Melhor Ator.
A versão dos Coen não tem pretensão de
substituir, no imaginário do público, o filme clássico, mas sim de oferecer uma
visão diferenciada sobre o mesmo argumento; em muitos aspectos os Coen tornam
este um filme bastante diferente, infundindo nele suas percepções mais
atualizadas, uma espécie de ambigüidade moral na caracterização dos personagens
e do ambiente, e um nível de detalhamento que escapava às produções antigas.
Velho Oeste. Ao chegar num típico vilarejo ao
Norte dos EUA, a jovem Mattie Ross (Hailee Stanfield, fabulosa) tem um único
objetivo: mobilizar uma caçada implacável ao homem vil (Josh Brolin) que matou
seu pai.
Aos seus 14 anos, porém, Mattie, mesmo que
obstinada e astuta, obtém pouco crédito das autoridades locais, que
invariavelmente ignoram seus apelos. A única ajuda que ela consegue é o
beberrão, mal-humorado e caolho Rooster Cogburn (Jeff Bridges, numa atuação
brilhante em postura e observação), junto do relutante oficial LaBoeuf (Matt
Damon, também ele muito bem aproveitado).
Juntos, muitíssimo à contra-gosto, essas três
pessoas de irredutível caráter, mas, completamente incompatíveis entre si
empreenderão a tal caçada humana pelas longínquas e inóspitas pradarias
americanas.
Absolutamente livres de auto-censura e de
qualquer necessidade politicamente correta, os Coen, astuciosos, pontuam seu
filme com observações que jamais surgiriam em uma produção dos tempos da Velha
Hollywood, em especial o tratamento indigno e cruel reservado aos índios pelo
homem branco.
Eles homenageiam o passado com a
auto-consciência crítica de quem sabe pertencer ao futuro.
Nem por isso, contudo, os
Coen enaltecem atos de anti-heroísmo da parte de seus personagens tão humanos e
idiossicráticos: Espirituosos, os Coen expõe as facetas dúbias, emocionais e
irreversíveis de sua jornada até o seu desolado fim, permitindo, por meio de
intérpretes de grandeza maior, que o público se enamora de todos eles apesar de
tudo, e compartilhe uma pontinha de lamento quando chega a hora da despedida.
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