domingo, 26 de março de 2017

Garotas do Calendário

Os meses que transcorrem através das reuniões do Instituto de Mulheres de Knapely são particularmente tediosos para as amigas Chris e Annie (as maravilhosas Helen Mirren e Julie Walters). Espirituosas, elas percebem antes das outras que lá, nada é discutido exceto as frivolidades de sempre (brócolis, ameixas e afazeres domésticos) que compõem a rotina da vida na cidadezinha inglesa de Knapely.
Esse sentimento é certamente o estopim para a iniciativa de Chris, que ocupa o cerne narrativo deste agradável e simpático “Garotas do Calendário”.
Dirigido por Nigel Cole –um dos muitos artesãos britânicos que se dividem mais nos projetos de TV que nos de cinema –este filme toma emprestada uma história real, e com ela faz o quê normalmente os americanos não fazem (ou não sabem fazer), mas que os ingleses executam com vontade e perícia: Ironia das mais saborosas.
Como é também habitual entre os ingleses, seu humor vem acompanhado de um saudável acréscimo de drama: O marido de Annie, um pacato jardineiro, é diagnosticado com câncer e, logo, após as agruras de praxe, vem a falecer. Não sem antes deixar a esposa consciente das melhorias que a ala hospitalar reservada ao câncer precisa –incluindo aí um novo e mais confortável sofá!
Aliada à melhor amiga Chris, que se mostra ainda mais ferrenha na causa do que ela, Annie convence meia dúzia de amigas, todas de meia idade, para juntas posarem num calendário a fim de arrecadar fundos com a vendas para o hospital. O detalhe: Todas estarão nuas!
Há um gracejo todo especial que se faz com esses pormenores ao longo do filme (a vaidade das fotografadas posta em cheque, o medo das opiniões alheias, e os meandros engraçados da própria sessão de fotos em si), e tão mais interessante tudo fica quando se está nas mãos de um elenco feminino sensacional.
O elenco de um filme inglês tende a ser um dado memorável por si só –e neste caso, não é nem um pouco diferente –mas, é necessário destacar Helen Mirren: Ela não somente exibe timing cômico dos mais apurados (que se mostra exuberante também em outro filme divertidíssimo, o acelerado “Red-Aposentados e Perigosos”), como também dentre todas, é a que mais surpreende na desinibição das breves cenas de nudez –e, com a idade que tem, ela se mostra espantosamente linda e encantadora!
É lógico que a situação criada pela iniciativa das mulheres maduras irá render frutos, tão benéficos quanto prejudiciais, e na maneira com que trabalha esses aspectos o filme oscila entre o ótimo e o razoável –a repercussão das fotos de nudez ocorre progressivamente, o quê leva a trupe de donas de casa até mesmo a um tour por Hollywood, mas também lhes faz descobrir o lado venenoso da mídia sensacionalista. O drama, ainda sim, nunca atinge níveis ofensivos ou aflitivos, certamente uma opção dos produtores. O humor inglês, por sua vez, não é dos mais facilmente assimiláveis e o filme tenta ser tão leve que quase fica disperso.
Um pecado menor diante de uma obra graciosa, que não tem pretensão de ser mais do que é.

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