segunda-feira, 27 de março de 2017

Tolerância

Este é um filme que padece de certos reflexos condicionados do cinema brasileiro realizado pela geração imediatamente anterior de realizadores: A pornochanchada.
Não é um filme oriundo desse nicho –até porque, na época de sua realização, 1999, esse subgênero já não existia mais, e o cinema brasileiro vivia sua fase da retomada –mas, percebe-se uma constante influência nele em sua condição, ora inspirando, ora renegando suas características.
É algo contraditório.
A trama –ambientada no sul do país, e por isso mesmo, já digna de curiosidade –ao mesmo tempo em que parece fazer alusão a um certo ângulo do film noir, e também carregar na presença da femme fatale, por conseguinte acaba tornando o sexo um elemento-chave em sua premissa.
Casal de tendências liberais formado por uma advogada envolvida num processo criminal e um web designer especialista, sobretudo, em adulterar fotos de mulheres nuas, conhece a melhor amiga de sua filha durante uma viagem a uma casa de campo.
A jovem, insinuante, enreda o marido num jogo de sedução cujas conseqüências desandam para infrações ainda mais perigosas do que a traição por assim dizer –como o crime.
As características de pornochanchada surgem aí, quando a direção e o roteiro convergem, inevitáveis, para cenas de adultério e apelo malicioso, incitando situações que levam a nudez de suas atrizes, mas é também quando o filme sofre de uma espécie de crise de consciência: O diretor Carlos Gerbase não adere totalmente à referência à esse estilo e isso se reflete em uma claudicante timidez que engessa a naturalidade das cenas –uma pena pois ele tinha à sua disposição a beleza e a exuberância de Maitê Proença, no importante papel da esposa do personagem de Roberto Bomtempo, o protagonista; ao menos, há uma cena, à beira de uma cachoeira, onde somos brevemente brindados com sua formosura.

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