O diretor de “Suspeito Zero”, E. Elias Merhige,
realizou dois filmes que chegaram, em épocas e de maneiras distintas, a chamar
a atenção: O perturbador e desconcertante “Begotten”, em 1991, e o metalingüístico
e interessante “A Sombra do Vampiro”, em 2000.
Ambos são bastante diferentes deste suspense
policial, o quê torna difícil encontrar um padrão, um tema ou um estilo no
trabalho de Merhige, ainda mais quando percebemos que neste filme (tal e qual
como em “A Sombra do Vampiro”) a premissa e o argumento não pertencem a ele,
mas, neste caso, aos roteiristas Zak Penn (atualmente responsável pelos
roteiros da série “X-Men”) e Billy Ray (roteirista de “Jogos Vorazes” e “Capitão
Phillips”).
“Suspeito Zero” começa com uma situação padrão
dos filmes americanos sobre psicopata: Um assassino promove uma série de crimes
e logo tem em seu encalço uma dupla de agentes do FBI, neste caso em questão,
os agentes MacKelway (Aaron Eckhart) e Fulok (Carrie Anne Moss, de “Matrix”),
que já foram casados.
Há uma ligeira quebra de convenções –e que
desperta algum interesse –quando vemos que eles não fazem questão alguma de
esconder a identidade do assassino: Ele é Benjamin O’ Ryan, interpretado com
bastante presença pelo ótimo Ben Kingsley.
A medida que o filme avança e novas informações
vão sendo agregadas à narrativa (como o histórico conturbado do próprio agente;
as reais motivações do assassino, e o mistério envolvendo sua nebulosa relação
com o FBI) fica cada vez mais difícil ignorar o imenso apreço que o roteiro e a
produção parecem fazer da obra-prima “Seven-Os Sete Crimes Capitais”, de David
Fincher –eles emulam seu estilo, sua iluminação, seu clima de sugestão macabra,
a estética detalhada e monocromática das cenas e diversos outros elementos, até
mesmo Ben Kingsley, careca e de olhar penetrante faz lembrar o personagem de
Kevin Spacey naquele filme.
O que redime, em parte, “Suspeito Zero” é a condução
esmerada de Merhige, que impõe, sobretudo na primeira metade, enquadramentos
incomuns, movimentos de câmera insólitos, takes inesperados, cortes inventivos
e uma postura distinta, compondo uma narrativa cheia de particularidades, que
intriga o expectador.
Não escapou, contudo, de
ser o mais fraco de seus trabalhos até aqui.
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