domingo, 26 de março de 2017

Suspeito Zero

O diretor de “Suspeito Zero”, E. Elias Merhige, realizou dois filmes que chegaram, em épocas e de maneiras distintas, a chamar a atenção: O perturbador e desconcertante “Begotten”, em 1991, e o metalingüístico e interessante “A Sombra do Vampiro”, em 2000.
Ambos são bastante diferentes deste suspense policial, o quê torna difícil encontrar um padrão, um tema ou um estilo no trabalho de Merhige, ainda mais quando percebemos que neste filme (tal e qual como em “A Sombra do Vampiro”) a premissa e o argumento não pertencem a ele, mas, neste caso, aos roteiristas Zak Penn (atualmente responsável pelos roteiros da série “X-Men”) e Billy Ray (roteirista de “Jogos Vorazes” e “Capitão Phillips”).
“Suspeito Zero” começa com uma situação padrão dos filmes americanos sobre psicopata: Um assassino promove uma série de crimes e logo tem em seu encalço uma dupla de agentes do FBI, neste caso em questão, os agentes MacKelway (Aaron Eckhart) e Fulok (Carrie Anne Moss, de “Matrix”), que já foram casados.
Há uma ligeira quebra de convenções –e que desperta algum interesse –quando vemos que eles não fazem questão alguma de esconder a identidade do assassino: Ele é Benjamin O’ Ryan, interpretado com bastante presença pelo ótimo Ben Kingsley.
A medida que o filme avança e novas informações vão sendo agregadas à narrativa (como o histórico conturbado do próprio agente; as reais motivações do assassino, e o mistério envolvendo sua nebulosa relação com o FBI) fica cada vez mais difícil ignorar o imenso apreço que o roteiro e a produção parecem fazer da obra-prima “Seven-Os Sete Crimes Capitais”, de David Fincher –eles emulam seu estilo, sua iluminação, seu clima de sugestão macabra, a estética detalhada e monocromática das cenas e diversos outros elementos, até mesmo Ben Kingsley, careca e de olhar penetrante faz lembrar o personagem de Kevin Spacey naquele filme.
O que redime, em parte, “Suspeito Zero” é a condução esmerada de Merhige, que impõe, sobretudo na primeira metade, enquadramentos incomuns, movimentos de câmera insólitos, takes inesperados, cortes inventivos e uma postura distinta, compondo uma narrativa cheia de particularidades, que intriga o expectador.
Não escapou, contudo, de ser o mais fraco de seus trabalhos até aqui.

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