Na seqüência de seu oscarizado “A Viagem de
Chihiro”, o mestre Hayao Miyazaki concebeu esta nova obra-prima da animação,
pontuada por preocupações e inquietações muito relevantes que ele levou por
toda a sua carreira. O fato deste filme refletir tão magnificamente bem a
personalidade de seu autor torna surpreendente o fato de que ele tenha sido
adaptado de um livro de outro escritor.
A jovem Sophie não tem maiores aspirações que a
levem além da loja de chapéus em que trabalha. Sua vida, no entanto, muda
drasticamente quando é transformada em uma velha de 90 anos por uma bruxa –e
que, além de tudo, lhe enfeitiça para que jamais consiga falar com alguém a
respeito disso.
Por meio de uma série de escolhas pontuais e
objetivas, Miyazaki deixa logo claro que a trajetória da protagonista gira
menos em torno da tentativa dela quebrar o feitiço que a mudou (uma expectativa
clichê no que tange a animações mais convencionais, mas que ele trata de
subverter), e mais em torno de encontrar um lugar entre os novos (e mágicos)
personagens que passam a integrar a sua vida, bem como a saber lidar com o
poder agregador que sua presença passa a exercer sobre eles.
Mais do que apenas isso (o quê é revelador da
dificuldade que existe em apreender essa trama maravilhosa numa sinopse
simples), há algo de Miyazaki em cada movimento que a narrativa dá: Seja nas
ocasionais seqüências em que ele tece um comentário muito particular (e
pacifista) sobre a guerra; seja na maneira com que os personagens expõem, pouco
a pouco as suas idiossincrasias (e, por conseguinte, suas ambigüidades morais) –a
bruxa, por exemplo, logo deixa de lado qualquer aura de “vilã da história” para
se tornar um inocente alívio cômico –ou seja nas guinadas inesperadas da trama,
cheias de requinte ainda que desprovidas de elementos condicionados à qualquer
expectativa do publico.
Miyazaki não se rendem ao expectador em prol de
entregar a ele a mais catártica e enternecedora das experiências.
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