domingo, 26 de março de 2017

Reviravolta

De vez em quando, o diretor Oliver Stone gosta de dar um tempo nas pretensas especulações políticas e históricas de suas produções e fazer um filme só para se divertir. Em 2012, quando isso lhe ocorreu, o resultado foi o mediano “Selvagens”, anos antes, em 1997, um rompante parecido com esse aconteceu, e ele realizou este um pouco esquecido “Reviravolta”.
Num ímpeto de irmanar-se ao cinema comercial norte-americano a que pertence, Stone criou uma narrativa nos moldes do film noir que sua geração apreciou, mais embutiu nele seu gosto pessoal por texturas despojadas e mundanos, seu senso de urgência e realismo, sua visão particular do próprio cinema –refletidos nas mesmas convulsões de câmera que testemunhamos no esquizofrênico “Assassinos Por Natureza”.
Diretor renomado que é, Stone atraiu um elenco dos mais notáveis para seu projeto: Billy Bob Thornton, Jon Voight, Joaquim Phoenix, Claire Danes, Nick Nolte, Jennifer Lopez, Sean Penn.
É esse último que responde pelo protagonista, um trambiqueiro que transporta uma fortuna por uma estrada poeirenta da fronteira entre os EUA e o México, a mando de algum chefão do crime.
Ele pára numa cidadezinha desolada para consertar o carro e, quando o dinheiro lhe é roubado, seus problemas começam a se acumular um a um, em ritmo e lógica quase desafiadores.
O estilo noir até que cai bem em Oliver Stone nos melhores momentos deste filme –ele se vale de sua irrestrita predileção por motivações ambíguas para narrar viradas pontuais na trama com naturalidade, sem no entanto, privar o expectador do espanto (e isso se percebe, sobretudo, na personagem de Jennifer Lopez, esposa do milionário interpretado por Nolte, que se revela a “femme fatale latina” deste filme, em sua segunda metade) –nos piores momentos, porém, tudo o que faz de Stone um diretor insuportável se faz presente em seu filme: Os atores, ainda que bem dirigidos, reagem com cacoetes desagradáveis e degradantes, característicos da visão excessivamente mundana que ele impõe aos personagens. Sua vontade de chocar o expectador e oferecer um sopro de renovação por meio do mais árido dos registros não raro exagera no teor, resultando questionável.
Tornados amantes pelas circunstâncias, mas impossibilitados de confiar um no outro pelos detalhes, os personagens de Penn e Lopez fogem com o dinheiro no desfecho do filme, mas terminam vítimas da própria tendência em querer estar em vantagem sobre o outro. Stone mescla tragédia e comédia nesse desenlace, assim busca mesclar seu cinema peculiar e ácido com um cinema de orientação mais comercial numa obra onde essas duas metades nem sempre se harmonizam –ainda que a montagem, a fotografia e a trilha sonora (de Ennio Morricone) sejam exemplares.

Como diz o personagem de Jon Voight em um determinado momento:
“Suas mentiras são velhas. Mas, você as conta muito bem.”

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