De vez em quando, o diretor Oliver Stone gosta
de dar um tempo nas pretensas especulações políticas e históricas de suas
produções e fazer um filme só para se divertir. Em 2012, quando isso lhe
ocorreu, o resultado foi o mediano “Selvagens”, anos antes, em 1997, um
rompante parecido com esse aconteceu, e ele realizou este um pouco esquecido “Reviravolta”.
Num ímpeto de irmanar-se ao cinema comercial
norte-americano a que pertence, Stone criou uma narrativa nos moldes do film
noir que sua geração apreciou, mais embutiu nele seu gosto pessoal por texturas
despojadas e mundanos, seu senso de urgência e realismo, sua visão particular
do próprio cinema –refletidos nas mesmas convulsões de câmera que testemunhamos
no esquizofrênico “Assassinos Por Natureza”.
Diretor renomado que é, Stone atraiu um elenco
dos mais notáveis para seu projeto: Billy Bob Thornton, Jon Voight, Joaquim
Phoenix, Claire Danes, Nick Nolte, Jennifer Lopez, Sean Penn.
É esse último que responde pelo protagonista,
um trambiqueiro que transporta uma fortuna por uma estrada poeirenta da
fronteira entre os EUA e o México, a mando de algum chefão do crime.
Ele pára numa cidadezinha desolada para
consertar o carro e, quando o dinheiro lhe é roubado, seus problemas começam a
se acumular um a um, em ritmo e lógica quase desafiadores.
O estilo noir até que cai bem em Oliver Stone
nos melhores momentos deste filme –ele se vale de sua irrestrita predileção por
motivações ambíguas para narrar viradas pontuais na trama com naturalidade, sem
no entanto, privar o expectador do espanto (e isso se percebe, sobretudo, na
personagem de Jennifer Lopez, esposa do milionário interpretado por Nolte, que
se revela a “femme fatale latina” deste filme, em sua segunda metade) –nos piores
momentos, porém, tudo o que faz de Stone um diretor insuportável se faz presente
em seu filme: Os atores, ainda que bem dirigidos, reagem com cacoetes
desagradáveis e degradantes, característicos da visão excessivamente mundana
que ele impõe aos personagens. Sua vontade de chocar o expectador e oferecer um
sopro de renovação por meio do mais árido dos registros não raro exagera no
teor, resultando questionável.
Tornados amantes pelas circunstâncias, mas
impossibilitados de confiar um no outro pelos detalhes, os personagens de Penn
e Lopez fogem com o dinheiro no desfecho do filme, mas terminam vítimas da própria
tendência em querer estar em vantagem sobre o outro. Stone mescla tragédia e
comédia nesse desenlace, assim busca mesclar seu cinema peculiar e ácido com um
cinema de orientação mais comercial numa obra onde essas duas metades nem
sempre se harmonizam –ainda que a montagem, a fotografia e a trilha sonora (de
Ennio Morricone) sejam exemplares.
Como diz o personagem de Jon Voight em um
determinado momento:
“Suas mentiras são velhas.
Mas, você as conta muito bem.”
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